Folha de S. Paulo


Emocionado, Obama anuncia controle mais rígido para venda de armas

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, fez uma emocionada defesa do controle de armas de fogo no país, ao anunciar um pacote de medidas nesta terça (5).

O principal objetivo é expandir a checagem dos antecedentes de quem compra armas, reduzindo as brechas que existem atualmente.

Sem apoio no Congresso, que tem maioria da oposição republicana, Obama recorreu a seu poder como presidente para apresentar as medidas em ordens executivas, que não passam pelo Legislativo.

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O fracasso em aprovar leis mais rígidas para o controle de armas é uma das maiores frustrações de Obama, que começa seu último ano na Casa Branca tentando dar "um senso de urgência" ao tema.

"Somos o único país avançado do mundo com esse tipo de violência e com essa frequência", disse o presidente. "De certa forma, nós ficamos insensíveis a isso e começamos a achar que é normal".

Entre as medidas anunciadas por Obama, uma das principais apostas é a exigência de licenças de pequenos comerciantes e vendedores particulares, o que os forçaria a checar os antecedentes de quem compra.

Atualmente, parte do comércio de armas é feita em feiras organizadas pelo país ou por particulares na internet, fugindo ao controle das autoridades.

Especialistas afirmam, porém, que as medidas não farão muita diferença e que comprar armas nos EUA continuará sendo bastante simples. "Ainda restarão muitas vias para comprar armas", disse à Folha o cientista político Steve Billet, da universidade George Washington.

AS PRINCIPAIS MEDIDAS DE OBAMA EM RELAÇÃO À VENDA DE ARMAS

LÁGRIMAS

Obama se emocionou ao lembrar de massacres praticados por atiradores, especialmente o que deixou 28 mortos numa escola do Estado de Connecticut em 2012, sendo 20 crianças.

"Toda vez que eu penso naquelas crianças, fico com raiva", disse, após fazer uma pausa e secar as lágrimas com a mão.

Numa crítica à oposição, Obama expressou espanto com a dificuldade em aprovar medidas "de bom senso" no Congresso. "Como isso se tornou uma questão tão partidária?", indagou.

Em 2013, um projeto de lei enviado por Obama ao Congresso com medidas de controle de antecedentes semelhantes as apresentadas nesta terça foi rejeitado pelo Senado.

Embora tenha reiterado que o ideal seria a aprovação de leis no Congresso, Obama afirmou que as medidas anunciadas poderão fechar algumas brechas hoje existentes nas regras para vendas de armas de fogo.

Entre elas, a exigência de checagens dos compradores e de licenças dos vendedores nos chamados "gun shows", feiras realizadas ao redor do país em que o controle não é tão rigoroso como em lojas.
constituição

O presidente rejeitou a crítica de muitos republicanos de que tais medidas contrariam o direito de portar armas, previsto na Segunda Emenda da Constituição.

"Fui professor de direito constitucional", afirmou. "Acredito que podemos achar modos de reduzir a violência por armas que são consistentes com a Segunda Emenda".

O presidente orientou o governo a intensificar o investimento e apoio à pesquisa de tecnologias que tornem mais seguro o uso de armas. Um exemplo é a instalação de um dispositivo de identificação por meio da impressão digital, semelhante ao que é usado em smartphones.

"Se uma criança não é capaz de abrir um vidro de aspirina, podemos garantir que também não possa apertar o gatilho de um revólver", comparou.

CRÍTICAS

A oposição criticou as propostas do presidente e sua iniciativa de driblar o Congresso.

"Em vez de se concentrar nos criminosos e terroristas, ele vai atrás dos cidadãos mais cumpridores das leis. Suas palavras e ações representam uma forma de intimidação que mina a liberdade", disse o presidente da Câmara dos Deputados, o republicano Paul Ryan.


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