Folha de S. Paulo


Assustada e com marcas de balas, Paris fica vazia

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Horas depois dos atentados de sexta-feira (13), a cidade de Paris amanheceu assustada, vazia e sob marcas de balas do terrorismo.

As janelas do restaurante Le Carillon estampam os buracos dos tiros dos ataques.

Para tentar apagar as manchas de sangue das vítimas, muita areia foi espalhada no chão da calçada do bar, um espaço de bebidas baratas e decoração despojada.

Na esquina em frente, o Le Petit Cambodge, onde dois brasileiros foram feridos, recebeu flores e velas em homenagem aos mortos.

Leandro Colon/Folhapress
Marcas de bala no Le Carillon, um dos alvos dos ataques que mataram ao menos 127 pessoas em Paris
Marcas de bala no Le Carillon, um dos alvos dos ataques que mataram mais de 120 pessoas em Paris

Os restaurantes, obviamente, estão fechados, sem previsão de reabertura. Quinze pessoas perderam a vida ali.

Moradores da região se emocionam ao lembrar do horror. Logo pela manhã, o o francês Jonathan, 27, e a sua companheira Charline, 26, foram ao local dos restaurantes alvejados. Moram na rua de trás.

"Estava em casa na hora do ataque, ouvi dois tiros, acabou a luz e minutos depois ouvi uma sirene. Fiquei em casa por segurança, porque comecei a acompanhar pelas redes sociais o que ocorria. É triste demais", conta Jonathan, que pediu para preservar o sobrenome.

Lojas, museus, bibliotecas e algumas estações de metrô fecharam durante dia. Poucas pessoas se arriscaram a sair pelas ruas, seguindo orientação das autoridades francesas.

Ao mesmo tempo, policiais estavam de prontidão nas principais esquinas e avenidas.

Mapa: Onde foram os ataques

A polícia isolou a área da casa de show Bataclan, onde ao menos 80 pessoas foram mortas pelos terroristas. Somente peritos e investigadores têm acesso ao local.

A estudante Lola Dhers, 20, é um dos poucos que podem cruzar a barreira, por morar a poucos metros dali. É frequentadora assídua da Bataclan.

"Estava em casa e, ao ouvir as sirenes, fui buscar informação. Comecei a telefonar para amigos que vivem por aqui para ter certeza de que estavam bem", conta, ao lembrar da noite anterior.

"Não sinto medo, é muito mais um choque. Mas temos que seguir a vida, fazer as nossas coisas, não posso ficar trancada em casa", diz.

Em uma rua próxima ao Bataclan, a Folha flagrou dezenas de motos queimadas ao lado de uma farmácia.

Segundo moradores, o episódio ocorreu na manhã de sábado, mas ninguém tinha mais detalhes sobre os autores e seus motivos.

Apesar do clima de tensão entre os moradores, muitos turistas tentam manter uma rotina de passeio, visitando restaurantes e praças.

DOAÇÃO DE SANGUE

Desde a noite de sexta-feira, voluntários formam filas em hospitais de Paris para doar sangue às vítimas.

"Acho que todos têm de fazer alguma coisa em solidariedade e doar sangue é uma forma que encontrei de ajudar", disse a publicitária Hortensia Metais, 26, após doar no Hospital George-Pompidou.

Os atentados fizeram a equipe desse e de outros hospitais pedir reforço -em alguns casos, isso nem foi necessário: alguns médicos e enfermeiros foram por conta própria ajudar no socorro das vítimas.

A reportagem chegou a Paris no sábado por trem, no primeiro horário vindo de Londres, por volta de 6h.

Apesar de todos os bilhetes vendidos, os vagões estavam vazios -o Eurostar, empresa que administra os trechos, anunciou que devolveria os valores pagos pela viagem em caso de desistência por causa dos atentados.


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