Folha de S. Paulo


Configuração do Congresso deve exigir negociação de sucessor de Cristina

A eleição deste domingo (25) na Argentina, que além de trazer um novo ocupante à Casa Rosada renovará um terço do Senado e metade da Câmara, promete aproximar a política do país vizinho da lógica já conhecida no Brasil, em que o presidente precisa negociar para formar uma base aliada no Congresso.

A previsão é que oposição e governistas tenham pesos mais equilibrados no novo Parlamento, o que iniciará uma nova fase na relação de poder entre o presidente e o Legislativo, seja quem for o próximo governante.

Essa é uma realidade muito diferente da política dos últimos anos do governo de Cristina Kirchner. Com folgada maioria de seu partido na Câmara e no Senado, a mandatária não teve dificuldades em aprovar as leis que queria. Deputados de sua agremiação (Frente para Vitória) e pequenos partidos aliados ocupam hoje 129 cadeiras, mais da metade da Câmara, que tem 257 membros.

"A Argentina se encaminha a um presidencialismo de coalizão, como o brasileiro", diz Rosendo Fraga, da consultoria Nueva Mayoría.

De acordo com projeções do instituto Management & Fit, os governistas devem perder 20 cadeiras nesta eleição.

A CÂMARA HOJE - 257 cadeiras

Isso decorre principalmente do fim dos mandatos de parlamentares eleitos no auge da popularidade da presidente, em 2011, quando foi reeleita no primeiro turno com 54% dos votos.

A expectativa é que a Frente para Vitória passe a ter 109 cadeiras no novo mandato, contra 91 de políticos da coligação opositora Mudemos, cujo candidato à presidência é Mauricio Macri, de centro-direita, em segundo nas pesquisas de intenção de voto.

O SENADO HOJE - 72 cadeiras

A frente de peronistas dissidentes do kirchnerismo, liderada por Sergio Massa, presidenciável pela coligação UNA e terceiro nas pesquisas, deverá ficar com 33 assentos, segundo projeções da M&F.

As estimativas de bancadas são baseadas nos resultados das eleições primárias, em agosto.

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NEGOCIAÇÃO

Na prática, isso indica que será uma era de mais negociação entre políticos de correntes distintas na busca por maiorias, em um Congresso que receberá caras novas.

Segundo previsão de Fraga, o movimento ultrakirchnerista La Cámpora, que integra a Frente para a Vitória, deverá eleger 12 deputados, aumentando sua influência.

Entre os nomes que chegam à Câmara estariam o do atual ministro da Economia, Axel Kicillof, e o do filho da presidente, Máximo Kirchner.

É exatamente com este grupo que se espera que Cristina mantenha sua influência na política argentina, mesmo sem um cargo eletivo.

Os camporistas podem se tornar um risco na votação de projetos que prevejam alterações na condução da economia como, por exemplo, a aprovação do pagamento dos credores da dívida externa do país, chamados localmente de "abutres".

Segundo o economista Miguel Kiguel, da consultoria Econviews, as eventuais travas poderão ser maiores caso o eleito seja Macri.

"Os peronistas, no fim, podem acabar se alinhando, mesmo com as suas diferenças", afirma Kiguel.

Já no Senado, a previsão da M&F é que a distribuição de poderes continuará pendendo para a Frente para a Vitória, que deverá deter 38 cadeiras, contra 24 de Mudemos e três da UNA (são 72 cadeiras ao todo).

Para o analista Ricardo Rouvier, porém, é preciso levar em conta que em tempos de eleição, quando as forças políticas medem suas forças, muitos mudam de lado.

O Congresso argentino é renovado a cada dois anos. Cada partido obtém um número de cadeiras diretamente proporcional à votação que recebeu a agremiação.

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