Folha de S. Paulo


Movimentos sociais viraram políticos, diz líder kirchnerista

"Você está num movimento social quando age na defensiva, lutando para subsistir, pedindo comida. Quando começa a mudar a realidade, que é o nosso caso, você já está num movimento político."

Assim Fernando "Chino" Navarro, 54, descreve sua atuação à frente do Movimento Evita, uma das principais agrupações que apoiam a presidente Cristina Kirchner.

Reprodução
FERNANDO 'CHINO' NAVARRO, líder do Movimento Evita, na Argentinahttp://www.chinonavarro.com.ar/
O site de Fernando 'Chino' Navarro, líder do Movimento Evita

Como o La Cámpora, a Juventude Peronista ou o Kolina, o Movimento Evita surgiu da militância jovem das ruas. Nos últimos anos, porém, os movimentos sociais passaram a ocupar lugares centrais na base de apoio do governo, deslocando os sindicatos de trabalhadores, tradicional suporte das gestões peronistas.

Enquanto o La Cámpora ocupa altos cargos no governo e em empresas estatais, o Movimento Evita acaba de oferecer seu apoio a Daniel Scioli depois de negociar com o candidato governista a criação de um ministério de economia popular.

A pouco mais de uma semana para o primeiro turno da eleição presidencial, neste domingo (25), Navarro recebeu a Folha para uma entrevista em seu escritório decorado com fotos dele com outros líderes peronistas, além do papa Francisco. "Gosto de [Jorge] Bergoglio [o papa], concordamos com ele quando pede 'terra, teto e trabalho'," diz.

Defensor de um Estado forte e peronista desde a adolescência, Navarro primeiro apoiou Carlos Menem (1989-99), mas se identificou mais com o kirchnerismo.

"Néstor levantou este país. E Cristina pôde fazer o que fez porque Néstor veio antes. Enfrentou a crise de 2009, criou a Lei de Meios, consolidou o mercado. Isso permite que nós, apesar da crise global, não estejamos em recessão."

Leo La Valle - 27.out.2010/Efe
ORG XMIT: 321901_1.tif MD86. MADRID, 27/10/2010.- Foto de archivo (14/05/09, en La Plata, Argentina) del ex presidente de Argentina Néstor Kirchner que muriú hoy en un hospital de la ciudad patagúnica de Calafate debido a un ataque cardóaco, confirmú hoy la agencia estatal Télam. La agencia oficial indicú que Kirchner, de 60 años, falleciú en el hospital minutos antes de las 10 de la mañana hora argentina. El ex mandatario habóa sido internado hoy en Calafate, donde habóa viajado esta semana junto con su esposa, la mandataria Cristina Fernández, quien guarda reposo por unas anginas. En septiembre pasado fue internado por una afecciún cardóaca en una clónica del barrio porteño de Palermo, donde habóa sido sometido a una angioplastia. En total, el ex mandatario habóa sido sometido este año a dos intervenciones cardóacas. EFE-ARCHIVO/Leo La Valle
Néstor Kirchner (1950-2010) durante campanha eleitoral de 2009, em La Plata (Argentina)

Como os defensores do kirchnerismo de um modo geral, Navarro minimiza o impacto negativo da inflação (cerca de 25%) na economia e crê que o ajuste que o próximo governo deve fazer não será radical. "Alguns acertos precisam ser feitos, mas estamos no caminho certo", diz.

Também afirma que as acusações da oposição de que houve compra de votos nas eleições regionais e de que o clientelismo hoje garante boa votação ao governo são exageradas.

"É possível roubar um voto, dois, mas não 20 milhões. Os que dizem isso nunca fiscalizaram uma eleição, nunca foram a um bairro pobre. O clientelismo é o argumento dos que não conseguem explicar porque eles são minoria e os outros são maioria. Na cabine de votação, o eleitor está sozinho, ninguém muda o voto porque recebeu uma sacola de comida."

DANIEL SCIOLI

O apoio dos movimentos sociais kirchneristas a Scioli, porém, não foi automático. Muitos líderes preferiam um candidato próprio, pois Scioli é identificado com uma corrente mais à direita dentro do peronismo.

Na falta de um consenso sobre alguém dos quadros kirchneristas, Cristina acabou optando pelo atual governador da Província de Buenos Aires.

"É o nome que representa aquilo que estamos construindo. Tenho companheiros mais críticos, que queriam outra pessoa. Mas, agora que está decidido, vamos apoiá-lo."

Fã de cinema, Navarro foi um dos produtores de "Néstor – La Película" (2012). Hoje, chora quando lembra do enterro do líder e crê que a imagem de Cristina melhorou depois da morte do marido, em 2010.

Diz que recomendaria a Cristina retirar-se da política ao final de seu mandato, "para cuidar dos netos". "Mas ela é um animal político, não creio que fará isso."

Eleições na Argentina

Questionado sobre o papel que crê que a atual presidente exercerá, Navarro responde com firmeza: "Quem chuta o pênalti é o jogador. Assim como quem conduz o país é o presidente. Não faz sentido isso que alguns dizem que quem vai governar é La Cámpora, ou é Cristina. O peronismo quem conduz é quem exerce a Presidência."

Conclui dizendo que não vê problemas em ser chamado de "sciolista", caso o favorito para vencer o pleito do próximo domingo vá bem no cargo e que é, acima de tudo, um peronista.

Admitiu, porém, que pode haver uma disputa por uma reacomodação na base de apoio com o possível retorno dos sindicalistas ao cenário. "Queremos poder, queremos decidir. Disputaremos por mais espaço."


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