Folha de S. Paulo


Ataque atribuído aos EUA mata ao menos 22 em hospital no Afeganistão

Um ataque aéreo a um hospital gerido pela organização Médicos sem Fronteiras (MSF) na cidade de Kunduz, no norte do Afeganistão, deixou pelo menos 22 mortos, segundo relato da organização.

Os mortos seriam 12 funcionários e sete pacientes, três dos quais crianças.

O porta-voz das forças dos EUA em território afegão, coronel Brian Tribus, confirmou que houve bombardeio americano na região e disse que ele pode ter causado "danos colaterais" numa instalação médica nas proximidades.

Segundo o porta-voz, o caso estava sob investigação.

Na noite de sábado (3), o presidente Barack Obama disse ter pedido ao Departamento de Defesa que o informe sobre toda a investigação e que só se pronunciaria após o resultado. Ele prestou condolências às famílias das vítimas.

Ao menos 37 pessoas ficaram feridas no bombardeio, e muitos dos pacientes e funcionários do hospital -ao todo, havia mais de cem pessoas no prédio- ainda estavam desaparecidos até a noite de sábado (horário afegão), segundo a MSF.

Assista

A Médicos sem Fronteiras afirmou ainda que o ataque ao hospital continuou por quase uma hora depois de autoridades militares americanas e afegãs terem sido informadas do erro. "Estamos profundamente chocados", disse o diretor de operações da organização, Bart Janssens.

O hospital atingido era o único capacitado para tratar de ferimentos graves n a região, de acordo com a MSF.

ATAQUE 'CRIMINOSO'

O chefe de direitos humanos da ONU, Zeid Ra'ad al-Hussein, chamou o ataque de "trágico, indesculpável e possivelmente até criminoso". O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, pediu uma investigação imparcial, para que os responsáveis sejam punidos.

Desde a semana passada, Kunduz, cidade estratégica na região norte afegã, é cenário de confrontos entre a milícia radical islâmica Taleban, o governo do Afeganistão e as forças que o apoiam.

Na segunda (28), o Taleban tomou a cidade, sua conquista mais importante desde que o grupo foi removido do poder pela invasão dos EUA, em 2001. Na quarta (30), tropas afegãs declararam ter retomado Kunduz em contra-ataque com apoio aéreo dos EUA, mas os confrontos seguiram.
coordenação

COORDENAÇÃO

O secretário de Defesa dos EUA, Ashton Carter, disse que a investigação para esclarecer o motivo do bombardeio está sendo realizada em coordenação com o governo local.

O presidente afegão, Ashraf Ghani, manifestou "profunda tristeza" com as mortes e disse que o chefe das forças dos EUA e da Otan no país, John Campbell, expressou suas condolências.

O governo do Afeganistão culpou o Taleban pelas mortes, alegando que integrantes da milícia se esconderam no hospital da MSF durante confronto com tropas afegãs.

"Foi terrível ver a perda de vidas de médicos do MSF, mas infelizmente os terroristas decidiram se esconder no hospital", afirmou o porta-voz do Ministério do Interior afegão, Seddiq Seddiqi.

Um morador de Kunduz, que se apresentou apenas como Khodaidad, confirmou à Reuters que membros do Taleban estavam usando hospitais da área para se esconder durante confrontos."Ouvi sons de artilharia pesada, explosões e barulho de aviões por toda a noite", descreveu

Onde fica Kunduz

COBRANDO EXPLICAÇÕES

Em um comunicado, a Médicos sem Fronteiras afirmou que o mais provável é que o hospital tenha sido bombardeado por forças lideradas pelos EUA.

"Todas as indicações no momento apontam para o bombardeio ter sido realizado por forças da Coalizão Internacional", disse a organização.

"A MSF demanda por uma explicação total e transparente da coalizão sobre suas atividades em Kunduz na manhã deste sábado."


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