Folha de S. Paulo


Para Brasil, não se pode esperar que reunião em Paris atinja seu objetivo

Às vésperas de apresentar a proposta de redução de emissões de gases estufa que levará à Conferência do Clima de Paris, em novembro, o governo brasileiro diz que "não se pode esperar" atingir, no encontro, os cortes necessários para manter o aquecimento do planeta em, no máximo, 2ºC em relação à era pré-industrial.

Até agora, cerca de 60 dos 196 países que participarão da COP-21 apresentaram as suas INDCs (Contribuição Nacionalmente Determinada Pretendida, na sigla em inglês). Entre eles, estão os 28 países da União Europeia, EUA, Rússia e China.

Ueslei Marcelino/Reuters
Dilma recebe Angela Merkel no Palácio do Planalto, em Brasília, quando anunciou que o Brasil vai descarbonizar sua economia até 2100
Dilma recebe Merkel em Brasília, quando anunciou que o país vai descarbonizar sua economia até 2100

Especialistas, contudo, avaliam que, com base no que foi apresentado até agora, dificilmente se chegará à meta dos 2ºC. Para o governo brasileiro, isso também já é claro.

"Você não pode esperar que vá ser em Paris [que se vai limitar o aquecimento a 2°C]", disse o secretário de Mudanças Climáticas do Ministério do Meio Ambiente, Carlos Klink, à Folha.

O acordo que sairá de Paris será, no entanto, um "sinal político forte para todos os governos", aposta o governo brasileiro.

"O fato de se colocar essas INDCs todas vai fazer com que todo mundo 'se enxergue'. A gente vai olhar as cartas de todo mundo. Ao mesmo tempo, isso está provocando uma movimentação política muito forte de vários setores da sociedade", afirmou Klink.

O secretário se esquivou ao ser questionado se, no compromisso que a presidente Dilma Rousseff apresentará no próximo domingo (27), durante a cúpula das Nações Unidas sobre desenvolvimento sustentável, em Nova York, haverá uma meta numérica para a redução das emissões de gases estufa.

"O nosso papel foi ir atrás de números, de possibilidades e modelos. Acolhemos muitas contribuições da sociedade civil, do setor privado –e daí construiu-se o que vai ser anunciado no domingo", disse, antes de embarcar para Nova York.

Segundo ele, os compromissos anunciados nos encontros bilaterais entre Dilma, o presidente Barack Obama (EUA) e a chanceler Angela Merkel (Alemanha) nos últimos três meses "mostram claramente a ambição do Brasil". Entre eles, estão o de zerar o desmatamento ilegal até 2030, reflorestar 12 milhões de hectares, aumentar a presença de energias renováveis na matriz energética de 28% a 33% e descarbonizar a economia –tornando-a baseada em energia limpa– até 2100.

Ele, contudo, sugeriu que o Brasil não apresentará propostas de políticas para chegar a esses objetivos antes da reunião em Paris. "Teremos que trabalhar muito em cima do que virá [da COP-21]. Teremos que ver como a gente vai tratar o tema dentro do Brasil: quais as políticas que vamos ter que coordenar e rever, quais os investimentos, como é que vão ser as negociações com os vários setores."

DIFICULDADES

Para Klink, o maior obstáculo para se chegar a uma meta sobre o corte de emissões é fazer com que todos os setores "entendam o novo rumo que nos está sendo apresentado".

"A questão de mudança do clima não é só ambiental, mas de um novo rumo de desenvolvimento econômico, social e ambiental do país", disse.

"Muitos setores da sociedade já entenderam, mas tem setor que, eventualmente, vem mais lentamente", completou.

O empresariado, por exemplo, tem várias ponderações sobre as mudanças que devem ser feitas para se conseguir uma economia mais "verde". "Eles ponderam várias colocações, a questão econômica do país, a questão fiscal", observou Klink. "Mas muita gente neste país está entendendo, sim, que há um novo rumo sendo construído."


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