Folha de S. Paulo


Alemães que criaram 'Airbnb para refugiados' recebem ofertas de ajuda

Um grupo alemão que congrega cidadãos dispostos a oferecer acomodações a refugiados afirma ter recebido volume imenso de ofertas de assistência, e já há planos em curso para a criação de esquemas semelhantes em outros países europeus.

O grupo Refugees Welcome ("Bem-vindos, refugiados", em português), sediado em Berlim, que vem sendo descrito como "um Airbnb (serviço de aluguel de imóveis por períodos curtos) para refugiados", ajudou pessoas que estão fugindo do Afeganistão, Burkina Faso, Mali, Nigéria, Paquistão, Somália e Síria.

Mais de 780 alemães se inscreveram no site do Refugees Welcome, e até agora 26 pessoas já foram acomodadas em residências de participantes. Dois dos fundadores do site, Jonas Kakoschke, 31, e Mareike Geiling, 28, vivem com Bakari, 39, um refugiado do Mali a quem estão ajudando em suas aulas de alemão, enquanto ele aguarda a concessão de um visto de trabalho.

Patrick Domingo-31.ago.2015/AFP
A protester holds a banner during a rally against ill-treatment of migrants after the bodies of 71 refugees were found in an abandoned truck last week in Vienna on August 31, 2015. Around 20,000 people demonstrated police said. The banner reads 'Muslims and refugees welcome'. AFP PHOTO / PATRICK DOMINGO ORG XMIT: 9239
Menina segura cartaz com a inscrição "bem-vindos, refugiados" em protesto na Áustria

Um porta-voz disse que o crescente sucesso do projeto conduziu a ofertas de assistência para a criação de esquemas semelhantes em outros países da União Europeia, entre os quais Grécia, Portugal e Reino Unido, e um projeto semelhante na Áustria já está em funcionamento desde janeiro.

No final de semana passado, milhares de islandeses ofereceram acomodações a refugiados sírios em suas casas, em uma carta aberta ao governo de seu país sobre a crise dos imigrantes.

Os islandeses apelaram ao seu governo que aceitasse mais refugiados sírios.

Entre as pessoas que responderam ao apelo do site alemão, há consultores de relações públicas, carpinteiros e muitos estudantes, com idades que variam dos 21 aos 65 anos. A maioria dessas pessoas vive em apartamentos divididos com amigos, segundo o grupo, mas também houve ofertas de casais casados e mães solteiras.

O professor Johann Schmidt ofereceu acomodação em seu apartamento, em Konstanz, a um refugiado iraquiano que lhe foi indicado depois que se inscreveu no site em novembro de 2014. "Azad sempre me conta sobre a situação em país de origem, e é capaz de explicar o contexto geral da situação atual para mim em termos simples", diz Schmidt. "Já aprendi bastante com ele e gosto muito de ouvir suas histórias".

Acomodar um refugiado não precisa necessariamente significar uma perda da renda obtida com a sublocação de um quarto, de acordo com a Refugees Welcome. Em um terço dos casos, os custos são cobertos por pagamentos feitos pelas centrais de emprego ou pela previdência social, e um quarto dos aluguéis são pagos com dinheiro que o site obtém por meio de um programa de pequenas doações.

"A disposição de ajudar das pessoas é esmagadora", afirmou o grupo na terça-feira (1º). "Temos recebido consultas de diferentes países da Europa, como Grécia, Portugal e Escócia, mas também da Austrália e Estados Unidos".

"Em toda a parte, as pessoas estão ansiosas para colocar em prática essa ideia em seus países e oferecer um lar a um refugiado", a organização acrescentou.

Outras pessoas receberam refugiados em casa por iniciativa pessoal. Martin Patzelt, legislador da União Democrata Cristã, o partido da chanceler alemã, Angela Merkel, alojou temporariamente dois refugiados eritreus em sua casa, em Brandemburgo.

Patzelt disse ter sido contatado por muitos outros alemães dispostos a oferecer suas casas, mas também recebeu ameaças de morte. "Eu não queria refugiados em minha vida, mas eles vieram. E aceitei o desafio", ele disse ao "EU Observer".

As ofertas de assistência em alguns casos foram numerosas demais para que as autoridades pudessem se encarregar delas. Na terça-feira, a polícia de Munique apelou ao público que parasse de entregar doações para os refugiados nas delegacias, anunciando no Twitter que não estava conseguindo lidar com a quantidade de provisões deixadas pelas pessoas, incluindo alimentos e fraldas.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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