Folha de S. Paulo


Policial venezuelano admite intenção de bloquear senadores brasileiros

Um dos agentes da Polícia Nacional Bolivariana admitiu nesta quinta-feira (18) haver uma ação orquestrada para bloquear a passagem de um micro-ônibus destacado para acompanhar uma comitiva de senadores brasileiros que viajou a Caracas para se reunir com opositores do governo.

"É evidente que é uma sabotagem. Quando vem uma autoridade estrangeira, nós os escoltamos em fluxo, contrafluxo ou em qualquer circunstância", afirmou sem se identificar, dando a entender que a escolta poderia passar por qualquer eventual bloqueio.

O veículo que transporta a comitiva, liderada por Aécio Neves (PSDB-MG) e pelo presidente da Comissão de Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), ficou parado na saída do aeroporto Simón Bolívar.

Como o veículo não conseguiu passar de uma alça de acesso à estrada que leva a Caracas, a comitiva de senadores decidiu voltar ao aeroporto. Depois de horas de espera, a comitiva embarcou de volta ao Brasil às 17h45 locais (19h15 de Brasília).

"Nós fomos sitiados e impedidos de cumprir o objetivo da nossa missão. Isto é um claro incidente diplomático, e vamos exigir que a presidente Dilma convoque para consultas o embaixador em Caracas [Ruy Pereira] e tome outras providências cabíveis diante dessa situação lamentável", afirmou o senador mineiro.

A delegação viajou a bordo de um avião da FAB e chegou à capital venezuelana por volta das 12h locais (13h30 em Brasília).

Previamente na saída do aeroporto, o micro-ônibus com os senadores foi cercada por dezenas de partidários do governo, muitos dos quais vestidos de vermelho, que bateram no veículo gritando: "Chávez não morreu, se multiplicou".

Para Aécio, a ação de manifestantes foi uma agressão. "Várias dezenas de manifestantes violentos bateram nos vidros e na lataria da van sem que houvesse segurança que pudesse minimamente dar tranquilidade. Ficamos tentando falar com o embaixador e, sem qualquer contato com o governo, em um momento onde nossa segurança não estava garantida", disse.

Já o senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB) disse que "eles [manifestantes] foram claramente pagos pelo governo".

A ação dos manifestantes causou tensão dentro do micro-ônibus onde estava a comitiva.

Segundo relatos, Lilian Tintori, mulher do opositor preso Leopoldo López, entrou em pânico, por medo de ser reconhecida pelos agressores.

Os outros passageiros a orientaram a abaixar a cabeça e se esconder atrás do banco.

Também integram a comitiva José Agripino (DEM), Ronaldo Caiado (DEM), Ricardo Ferraço (PMDB), José Medeiros (PPS) e Sérgio Petecão (PSD).

"Não conseguimos sair do aeroporto. Sitiaram o nosso ônibus, bateram, tentaram quebrá-lo", disse Caiado.

Após falar ao telefone com os senadores, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), disse que vai cobrar da presidente Dilma Rousseff uma posição de repúdio do governo brasileiro às agressões.

Inicialmente, membros da escolta dos senadores disseram que o bloqueio na estrada se devia ao translado de um prisioneiro extraditado da Colômbia.

Posteriormente, a deputada cassada María Corina Machado informou, pelo Twitter, que os túneis da estrada Caracas-La Guaira, por onde passaria a comitiva, estão passando por limpeza desde a manhã.

O senador Cunha Lima criticou a posição do embaixador, Ruy Pereira: "Ele não fez o que se espera de uma assistência institucional. Lavou as mãos".

De acordo com os senadores, a embaixada informou que tentou contato com a chanceler venezuelana, Delcy Rodríguez, mas foi comunicada que ela estava em uma reunião de governo —naquele momento, o presidente Nicolás Maduro discursava em cadeia nacional.

AGENDA FRUSTRADA

A previsão era de que, após saírem do aeroporto, os senadores seguissem direto até o presídio de Ramo Verde, nos arredores da capital, onde tentariam visitar o opositor Leopoldo López, detido há mais de ano por instigar violentos protestos contra o presidente socialista Nicolás Maduro, em 2014.

"Criaram um transtorno em toda a cidade com o objetivo de impedir que chegássemos à prisão de Ramos Verde", disse Aécio.

Assista ao vídeo de Aécio apresentando o objetivo da viagem:

Veja vídeo

Durante a tarde, os senadores planejavam almoçar com representantes da MUD, principal coalizão opositora, e manter reuniões com parentes de estudantes presos por envolvimento nas manifestações do ano passado.

Também estava prevista uma visita ao prefeito metropolitano de Caracas, Antonio Ledezma, que está em prisão domiciliar.

Para se contrapor à presença dos senadores, o governo venezuelano convidou um grupo de brasileiros militantes de esquerda e membros de sindicatos, que cumpre agenda de encontros e aparições na mídia estatal.


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