Folha de S. Paulo


Estudantes alemães homenageiam colegas mortos em acidente na França

Martin Meissner/Associated Press
Pessoas acendem velas em frente da escola Josef-König-Gymnasium
Pessoas acendem velas em frente da escola Josef-König-Gymnasium

Os estudantes da escola de ensino médio de Haltern, a 89 km de Düsseldorf, estavam em aula quando receberam a notícia. Era perto do meio-dia (8h, no horário de Brasília) quando os estudantes e funcionários tomaram conhecimento do acidente, mas a presença dos alunos da escola no Airbus A320 ainda era incerta.

Somente perto das 15h (10h, no horário de Brasília), o que já se temia foi confirmado. Entre os 150 a bordo do avião que caiu durante o percurso entre Barcelona, Espanha, e Düsseldorf, havia 16 alunos e duas professoras. Os estudantes tinham entre 15 e 16 anos.

Ao ficar sabendo do acidente, a coordenação da escola decidiu cancelar as aulas do dia e mandar os alunos para casa. Mas alguns inquietos permaneceram na escola em busca de informações.

Enquanto isso, os pais dos 16 jovens estavam no Aeroporto Internacional de Düsseldorf os esperando. Um grupo de profissionais especializados em atendimento psicológico em momentos de crise informaram os pais da tragédia.

A confirmação de que os alunos estavam no avião veio perto das 15h. A escola é frequentada não só por jovens de Haltern, com 39 mil habitantes, mas também por habitantes de municípios das redondezas.

Os 16 adolescentes alemães faziam um curso de espanhol de uma semana na cidade de Llinars del Vallès, a 40 km de Barcelona. Um professor da escola espanhola, onde os alunos faziam o intercâmbio cultural, confirmou que o grupo havia embarcado no avião.

Em coletiva, no final da tarde, o prefeito de Haltern, Bodo Klimpel, mostrou-se bastante emocionado. "É uma tragédia incompreensível e, com certeza, um dos momentos mais escuros na história da nossa cidade. Nossos pensamentos estão todos agora com as famílias atingidas", declarou Klimpel, tentando conter as lágrimas.

Também no final da tarde, alunos, familiares e funcionários se reuniram na escadaria da escola para prestar homenagem aos colegas. Com velas e flores, o grupo deixava mensagens de conforto em frente ao prédio.

De acordo com a Prefeitura de Haltern, na manhã de quarta-feira (25) os alunos não terão aulas, mas a escola ficará aberta para quem quiser conversar sobre o acidente. Psicólogos e religiosos estarão à disposição dos estudantes que precisarem de auxílio para processar a perda dos colegas.

CIDADE DE LUTO

Na cidade de Düsseldorf, capital do Estado de Renânia do Norte-Vestfália, os moradores também mostraram seus sentimentos quanto à tragédia.

Na Prefeitura, as bandeiras do Estado e da Alemanha foram postas a meio mastro. "Foi com grande perplexidade que descobri o acidente. Meus pensamentos estão com as 150 pessoas, que estavam a bordo do avião, e com seus familiares", declarou o prefeito Thomas Geisel.

Editoria Arte/Folhapress

No aeroporto, uma singela homenagem às vítimas foi montada por um jovem, que preferiu não se identificar. "Sou de Düsseldorf e me senti tocado pelo o que aconteceu", disse.

Junto a uma vela, folhas e canetas para que os interessados pudessem deixar suas mensagens, o jovem escreveu as seguintes palavras: "Queridos pais, irmãs, irmãos, amigos e amados. Permaneçam fortes. Düsseldorf, o Mundo e eu sofremos com vocês. Vocês não estão sozinhos. Fé, Amor e Esperança."

ALÍVIO ENTRE OS BRASILEIROS

Quando soube da notícia do acidente, Luiza Freire Arold, 24 anos, sentiu-se aliviada. "Podia ser eu naquele voo", conta a estudante da Engenharia de Materiais da Universidade de São Paulo (USP).

Luiza mora em Aachen, a 86 km de Düsseldorf, e faz parte do Programa Ciências Sem Fronteiras, pelo qual estuda na Rheinisch-Westfälische Technische Hochschule (RWTH).

A jovem foi visitar uma amiga em Valência e considerou voltar por Barcelona para Düsseldorf, de onde pegaria o trem para Aachen. Porém, quando olhou as passagens de avião, encontrou um trecho mais barato, saindo de Madrid e chegando em Colônia, mais próximo a Aachen.

"Eu acabei voltando no domingo, mas havia cogitado voltar na segunda ou na terça-feira. Fiquei em choque quando soube do acidente, mas muito aliviada por pensar que poderia estar nesse avião", relata Luiza.

A família de Luiza no Brasil entrou em contato com ela assim que soube da tragédia. O irmão enviou mensagem por Whatsapp para se certificar de que a estudante já estava em Aachen. "É nesses momentos que se vê a importância de manter contato com a família sempre", desabafou.

Denise Groth, 39 anos, brasileira de Presidente Prudente, vive em Düsseldorf há 20 anos. Desde 2000, trabalha na Alfândega do Aeroporto Internacional de Düsseldorf, mas, justo no dia do acidente, Denise tinha um compromisso no Consulado em Frankfurt e não foi trabalhar.

"Até fiquei mais aliviada. É difícil lidar com uma situação assim porque muita gente vem pedir informação e nem sempre a gente pode ajudar", afirma. Ela ficou sabendo do acidente quando chegou em Frankfurt, no início da tarde.


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