Folha de S. Paulo


Juiz argentino diz que 40 mil escutas do caso Nisman não são relevantes

O juiz federal argentino Daniel Rafecas disse que as cerca de 40 mil escutas telefônicas tornadas públicas na madrugada de segunda (2), que fazem parte da denúncia contra a presidente Cristina Kirchner, "não têm relevância".

Na última semana, o magistrado já havia rejeitado a denúncia feita pelo promotor Alberto Nisman, encontrado morto em janeiro.

Segundo Rafecas, a inteligência argentina já havia vasculhado os milhares de áudios e separado uma "centena". "Não há mais escutas relevantes nessas milhares que restaram e agora foram publicadas", disse o juiz.

Nisman havia acusado a presidente, o chanceler Héctor Timerman e outros integrantes do governo de acobertar iranianos suspeitos de autoria no atentado contra a sede da organização judaica Amia, que deixou 85 mortos em 1994 em Buenos Aires. Cristina teria protegido os iranianos em troca de acordo comercial com Teerã.

As gravações trazem conversas nas quais aparecem o iraniano Moshen Rabbani, um dos suspeitos, que era conselheiro cultural da embaixada do país em 1994, o militante governista Luis D'Elia e o dirigente da comunidade islâmica Yussuf Khalil, suposto agente do regime iraniano.

Os áudios foram divulgados pelo site Infobae, que teria obtido o material com uma pessoa de confiança do promotor.

"Em algum momento dos agitados dias de janeiro que precederam sua morte trágica, Nisman confiou a um de seus colaboradores um arquivo contendo as quase 40.000 escutas telefônicas que vinha analisando nos últimos anos", diz o texto do Infobae.

O site afirma que poderia ter segurado o material até "filtrá-lo". "Mas preferimos não impor um critério, e sim honrar o direito de cada um ter acesso livre à informação."

Em uma das escutas, de maio de 2013 -quatro meses após a assinatura de um memorando de entendimento entre os dois países-, Rabbani diz ao presidente da Confederação de Entidades Argentino Árabes, Adalberto Assad, que seu país está pronto para "vender petróleo, tratores e aço à Argentina, e comprar armas".

Em outros áudios, Khalil e D'Elia comemoram o acordo de 2013 entre os dois países, e, no dia seguinte à assinatura, o iraniano pede ao governista que não se exponha tanto à imprensa.


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