Folha de S. Paulo


Queda nos preços do petróleo acirra crise na Venezuela

A crise na Venezuela agravou-se abruptamente nos últimos dez dias. O prefeito oposicionista de Caracas, Antonio Ledezma, foi preso, acusado de conspiração, um policial matou um jovem de 14 anos com um tiro na cabeça às margens de um protesto e governistas ocuparam o prédio do Copei, sigla de oposição.

Já debilitada por expropriações, controle de câmbio e de preços, a economia local é empurrada ao abismo pela queda do petróleo. Derrubado pela abundante oferta americana e saudita, o barril venezuelano fechou a semana em US$ 49, ante US$ 90 em setembro e US$ 98 em 2013.

Esse cenário é desastroso para um país onde o petróleo responde por nove de cada dez dólares arrecadados. No entanto, como as vendas de petróleo são a futuro, o país ainda é movido por contratos fechados em novembro de 2014, quando o barril continuava na média de US$ 70.

Para economistas, o impacto do petróleo a menos de US$ 50 será sentido a partir de agora. Eles preveem mais escassez, filas e pobreza.

"O governo não se preparou para as vacas magras e continua em guerra contra o setor produtivo", diz Carlos Larrázabal, da entidade empresarial Fedecámaras.

À queda da arrecadação soma-se outra pressão: o pagamento, até 2016, de US$ 21 bilhões da dívida venezuelana, montante exato das reservas do país. O PIB caiu 2,8% em 2014, e o FMI prevê uma contração de 7% neste ano.

O presidente Nicolás Maduro pediu "união" e, rejeitando cortar gastos e aliviar controles da economia, disse que "Deus proverá" melhorias.

Com apenas 22% de apoio popular, Maduro culpa pela crise a oposição, acusada de buscar um golpe similar ao de 2002, quando oposicionistas tiraram do poder por três dias o então presidente Hugo Chávez, que morreu em 2013.

O presidente –que cancelou sua ida ao Uruguai para a posse de Tabaré Vázquez, no domingo (1º)– participou neste sábado de ato pró-governo em memória do "Caracazo", revolta popular que deixou quase 300 mortos em 1989.

Também no sábado, oposicionistas marcharam em San Cristóbal (oeste do país) para pedir justiça para Kluyberth Roa, o jovem de 14 anos morto pelo policial. Nenhum incidente foi registrado.

DESVIANDO O FOCO

Para a analista Margarita López Maya, a prisão do prefeito de Caracas e a as ameaças a opositores atendem a vários objetivos: desviar o foco da crise, mostrar força e dividir a oposição entre radicais, pró-renúncia de Maduro, e moderados, que tentam chegar ao poder pelas urnas.

"Chávez era carismático e teve uma era de prosperidade. Maduro não tem nada disso, então tenta compensar com autoritarismo", afirma.

Ela teme que o governo use eventuais novos protestos para justificar um estado de exceção e cancelar a eleição parlamentar, que não tem data exata para acontecer.

Com agências de notícias


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