Folha de S. Paulo


Jornalista aponta paralelo entre Estado Islâmico e nazistas

"Há fortes paralelos entre o Estado Islâmico e os nazistas." Essa é a avaliação do jornalista britânico Patrick Cockburn, correspondente do jornal "The Independent" para o Oriente Médio e autor do recém-lançado livro "The Jihadis Return ""Isis and the New Sunni Uprising" (O retorno dos jihadistas "" Estado Islâmico e a nova revolta sunita, sem edição brasileira).

Em entrevista à Folha, concedida por Skype, Cockburn afirmou que os jihadistas adotam "comportamento extremamente sectário contra diversos grupos étnicos e religiosos e que sua resposta àqueles que se opõem é assassiná-los, como faziam os antissemitas na Alemanha".

Além disso, o jornalista crê que, como ocorria entre os nazistas, o EI adota práticas sociais patriarcais, "tratando mulheres quase como gado, como meras posses".

A comparação é encerrada com um prognóstico dos conflitos no Iraque e na Síria: "Creio que, assim como ocorreu na Alemanha nos anos 1930, o Estado Islâmico está criando muitos inimigos. Não significa, contudo, que não esteja sendo bem-sucedido no momento. No longo prazo, acho que serão derrotados. Mas só no longo prazo".

Cockburn tem oferecido análises acuradas do crescimento do grupo jihadista. Ao fim de 2013, quando poucas vozes citavam preocupação com o avanço do EI, o jornalista nomeou o então desconhecido Abu Bakr al-Baghdadi –chefe da organização"" como o líder mais influente do Oriente Médio no ano.

"Havia dois fatores muito claros em marcha na segunda metade de 2013. O primeiro foram as diversas campanhas bem-sucedidas dos jihadistas para atacar prisões iraquianas em que combatentes mais experientes estavam detidos. O segundo, mais geral, é que a comunidade sunita do país tinha se tornado mais alienada da vida nacional. Eles estavam migrando de protestos pacíficos para resistência armada, e o EI se beneficiava disso", comenta.

No prefácio de seu novo livro, finalizado em julho em Bagdá, outra observação se mostraria depois acertada: Cockburn disse que parecia "improvável que populações não muçulmanas, inclusive muitas do Ocidente, mantenham-se intocadas" pelos conflitos no Iraque e na Síria.

Um mês depois, o EI divulgou vídeo com a decapitação do fotojornalista americano James Foley, a primeira de uma série de execuções de cidadãos ocidentais mantidos como reféns pelo grupo.

Para o britânico, que trabalha com Oriente Médio desde 1979, as potências do Ocidente têm grande responsabilidade pela atual situação.

"Ao invadirem o Iraque em 2003, e principalmente depois, ao permitirem a continuidade da guerra civil na Síria [iniciada em 2011], criaram as condições para que os jihadistas pudessem crescer. Acho que o EI é em grande parte fruto dessa guerra."


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