Folha de S. Paulo


Campanha de neto de ex-presidente mostra força de dinastias nos EUA

Jason Carter, 39, não disfarça o sobrenome famoso em sua campanha para governador da Georgia. Um dos vídeos de sua propaganda política traz uma versão do jingle que seu avô, Jimmy Carter, usou quando concorreu à Presidência americana em 1976.

No anúncio retrô, um rapaz de bigodão, Rayban e gola da camisa estampada por cima da lapela do blazer marrom troca o "Jimmy Carter" da canção original por "Jason Carter says yes" [Jason Carter diz sim].

Veja vídeo

Sua colega democrata que concorre ao Senado pelo mesmo Estado, Michelle Nunn, é filha de Sam Nunn, que foi senador de 1972 a 1997.

"Esta eleição parece [o seriado] "That's 70s show"", ironizou o senador republicano Ted Cruz, do Texas, em referência a um programa de TV sobre aquela década.

Ambos democratas de sobrenomes famosos têm chances de vencer (estão em empate dentro da margem de erro das últimas pesquisas) em um Estado conservador, onde 1998 foi a última vez que um governador democrata foi eleito.

Os republicanos dominam todos os principais cargos estaduais e Senado e Câmara da Assembleia Legislativa no Estado mais populoso do antigo Sul escravocrata americano.

É ali que o jovem Carter, advogado e ex-voluntário dos Corpos de Paz na África do Sul entre 1998 e 2000, está em seu segundo mandato como Senador estadual. Seu avô, que foi presidente de 1977 a 1981, foi antes governador do Estado.

"Mesmo que não vença, já é uma vitória moral ameaçar os republicanos aqui", disse à Folha Jim Galloway, colunista político do maior jornal do Estado, o Atlantic Journal-Constitution.

A Biblioteca Presidencial Carter, que fica em Atlanta, continua com filas de escolares conhecendo não só o legado de sua Presidência, mas o que fez depois da Casa Branca.

Alex Argozino/Editoria de Arte/Folhapress

No passado, o nome Carter poderia ser um problema –o avô foi derrotado por Ronald Reagan quando tentava a reeleição, depois de enfrentar inflação em alta e acusado de "fraco" por não bombardear o Irã, quando centenas foram feitos reféns na Embaixada americana em Teerã, ou por assinar o tratado que devolveu o Canal de Panamá ao país centro-americano.

Não hoje. "Ninguém mais lembra de 1980 e Carter virou um ex-presidente muito popular, com campanhas humanitárias no mundo todo", diz Galloway. "Ele criou uma campanha viável, com muitas doações, usando a rede de contatos do avô".

Sua campanha é quase toda focada em educação. Ele já prometeu um novo fundo exclusivo para o equivalente ao Ensino Fundamental e de reduzir verbas de outras secretarias para repassar a de Educação.

A oposição diz que ele é inexperiente, e lembra que "os americanos já votaram em outro senador junior, sem brilho ou experiência, como Barack Obama", nas palavras do senador republicano Fran Miller.

Carter tem uma diferença pequena nas pesquisas em relação ao o governador republicano Nathan Deal, 72, que busca a reeleição, 42% a 46%.

Carter é o preferido com mulheres (55% dizem que votarão nele) e negros (80%), mas tem dificuldade com o eleitor branco do sexo masculino –apenas 23% declaram intenção de voto no democrata.

É muito provável que ambos se enfrentem em um segundo turno em dezembro –um candidato libertário, com 5% nas pesquisas, deve impedir a decisão na eleição desta terça (4).

Diversos Estados repetem o padrão da Georgia, com filhos e netos de políticos concorrendo.

Apesar do mito da meritocracia no país e de diversos outros candidatos alardearem suas infâncias humildes, a eleição presidencial de 2016 dá sinais que as dinastias continuarão com força.

Hillary Clinton, ex-primeira-dama, e Jeb Bush, filho e irmão de ex-presidentes, já se movimentam em suas pré-campanhas.


Endereço da página:

Links no texto: