Folha de S. Paulo


Serviço secreto israelense se rende à indiscrição do YouTube

Uma das organizações mais secretas do mundo da espionagem, o Mossad (conhecido como "O Instituto"), está se ressentindo da falta de agentes e se dispõe a recrutar novos candidatos por meio de uma forma inusitada, nada ortodoxa na verdade, para quem é familiar com o mundo da bisbilhotice política e militar.

Famosa pelas operações audaciosas de espionagem e assassinato contra os inimigos de Israel, a agência acaba de criar um novo website e produziu um filme, exibido no YouTube, em que busca encontrar "homens e mulheres dispostos a enfrentar novos desafios". Até então, os quadros do "Instituto" eram escolhidos entre o melhor da sociedade israelense.

Ou seja, elementos altamente motivados, oriundos das forças armadas ou não, dispostos a servir o país em circunstâncias na maioria das vezes perigosas, em que a vida está sempre em risco e o menor erro pode ser fatal.

Homens e mulheres de uma lealdade acima de quaisquer provas, capazes de abrir mão de suas identidades e vida familiar para mergulharem no trabalho clandestino em nações do mundo árabe, principalmente.

No passado, uma das façanhas mais famosas do Mossad foi conseguir na União Soviética uma cópia do famoso "Documento Kruschev", quando o então secretário-geral do PCUS denunciou publicamente os crimes cometidos durante a era stalinista.

Concordam os analistas que ali se iniciava a debacle do império soviético.

Outra operação espetacular ocorreu na Síria, na década de 60, quando Elie Cohen, um judeu nascido em Alexandria, no Egito, com identidade falsa, infiltrou-se no Partido Baath sírio e chegou a ser cotado para o cargo de ministro da Defesa daquele país.

Foram suas informações que levaram Israel a adiantar-se ao ataque surpresa preparado pela coalizão árabe (Egito, Síria e Jordânia), obtendo uma vitória espetacular na Guerra dos Seis Dias (1967). Cohen foi desmascarado e enforcado em praça pública em Damasco.

Hoje, uma voz feminina no filme do YouTube soa persuasiva aos ouvidos do candidato potencial: "Sua imaginação é a minha realidade".

E prossegue: "Esse é o meu mundo, essa é a minha missão e talvez a sua" –enfatiza num inglês sem qualquer rastro de sotaque hebraico. E convida: "Todos são bem-vindos para contatar nossa organização". O "Contate-nos" é expresso também em árabe, farsi e línguas ocidentais. O filme garante, por outro lado, que "a discrição é a nossa prioridade máxima".

Segundo Tamir Pardo, diretor do Mossad, o novo website foi criado com o objetivo de tornar o Instituto acessível a candidatos potenciais, a quem raramente são oferecidos empregos com perfil tecnológico de inteligência.

Quem se aventurar, terá de preencher um questionário interativo, através do qual deverá expor visão do mundo, preferências e qualificações.

Pardo ressalta que Israel é permanentemente submetido a grandes ameaças.

"Diante disso", argumenta, "temos de recrutar o que há de melhor em termos de elemento humano, para preencher nossas fileiras e assegurar ao Estado de Israel a proteção máxima à sua existência. Assim, o Mossad atua e continuará atuando em qualquer parte do mundo, a fim de proteger Israel".


MÁRIO CHIMANOVITCH é jornalista e ex-correspondente de jornais brasileiros no Oriente Médio


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