Folha de S. Paulo


Ministro diz que Ucrânia não permitirá passagem de ajuda russa

A Ucrânia não permitirá a entrada em seu território de "nenhum comboio humanitário" de Vladimir Putin destinado às regiões do leste do país devastadas pelo conflito, afirmou o ministro do Interior, Arsen Avakov.

"Nenhum 'comboio humanitário' de Putin passará pela região de Kharkov", destacou o ministro ucraniano.

Khakhov, no nordeste do país, é uma área controlada por Kiev e por onde Moscou anunciou que entrariam os caminhões que partiram na terça-feira (12) da Rússia.

"Tal provocação cínica do agressor em nosso território é inaceitável", escreveu no Facebook.

O ministro de Relações Exteriores da Rússia chamou de absurda a suspeita de que a Rússia usaria um comboio de ajuda humanitária para invasão da Ucrânia.

O primeiro-ministro ucraniano Arseni Yatseniuk destacou durante um conselho de ministros que a Ucrânia só poderia aceitar ajuda "dentro do marco do direito internacional e exclusivamente da Cruz Vermelha".

"O cinismo dos russos não tem limites. Primeiro nos entregam tanques, (lança-foguetes múltiplos) Grad, terroristas e bandidos que matam ucranianos e depois nos enviam água e sal", disse.

O Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) em Kiev declarou à AFP que prosseguiam as conversas sobre o envio de uma ajuda humanitária russa para a Ucrânia.

"O CICV precisa de mais detalhes sobre a composição do comboio", declarou o porta-voz Andre Loersch, antes de destacar que o comitê não teve a oportunidade de verificar a carga.

Segundo Lersch, a organização internacional está em contato com todas as partes envolvidas para permitir a chegada de ajuda humanitária para o leste da Ucrânia, cenário há quatro meses de pesados combates entre as forças de Kiev e os separatistas pró-Rússia.

O comboio de quase 300 caminhões deve chegar na quarta-feira à noite ao posto de fronteira de Chebekino-Pletnevka, entre a região de Belgorod (sul da Rússia) e Kharkov (nordeste da Ucrânia), segundo Moscou.

CONDIÇÕES

O ministério russo das Relações Exteriores anunciou na terça-feira que o país envia a ajuda de acordo com os termos desejados pela Ucrânia, aceitando o itinerário proposto por Kiev e a inspeção da carga.

A Rússia garante que pactuou a missão humanitária com Kiev, com o Comitê Internacional da Cruz Vermelha e representantes de organizações internacionais como a ONU e a Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE).

Mas a Ucrânia, que acusa a Rússia de armar os separatistas –o que Moscou nega–, alertou na terça-feira que o comboio não poderia entrar em seu território em tais condições.

Kiev exige a entrega do material e a transferência para veículos do Comitê Internacional da Cruz Vermelha na fronteira.

CONFRONTOS

O Exército da Ucrânia confirmou a morte de 11 militares nas últimas 24 horas em confrontos com os separatistas pró-russos no leste do país, informou nesta quarta-feira o Conselho de Segurança Nacional e Defesa.

"Ao longo do último dia, 11 militares nossos morreram e outros 41 ficaram feridos", declarou o porta-voz do órgão citado, Andrei Lisenko.

O número de mortos no conflito no leste da Ucrânia entre forças do governo e separatistas dobrou em duas semanas a um total de 2.086, anunciou nesta quarta-feira o porta-voz do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos.

Em relação às informações sobre a morte de outros 12 combatentes, do partido ultranacionalista "Pravy Sektor" (Setor de Direita), em uma emboscada dos separatistas no leste da Ucrânia, Lisenko adiantou que ainda não há dados precisos sobre o ocorrido.

Anteriormente, o porta-voz dessa organização ultradireitista, Artiom Skoropadski, informou à emissora local "112 Ukraina" que, mesmo "faltando uma confirmação definitiva, possivelmente 12 combatentes do 'Pravy Sektor' haviam morrido". "Caíram em uma emboscada", disse Skoropaski.

Dmitri Yarosh, líder do movimento reconvertido em partido político após a troca de poder em Kiev, escreveu em seu Facebook sobre "as terríveis perdas" sofridas em relação aos combatentes da organização.

A organização aglutina vários grupos de extrema-direita, incluindo torcidas organizadas de equipes de futebol.


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