Folha de S. Paulo


Laboratórios brasileiros não devem tentar isolar o vírus ebola, diz Saúde

Na eventual chegada ao Brasil de um paciente com suspeita de ebola, tida como improvável pelo governo, laboratórios nacionais não devem tentar isolar e identificar o vírus, alertou nesta terça (5) o Ministério da Saúde.

"A gente diz para ninguém tentar fazer exame de identificação do vírus, não pode ser feito, é um risco muito grande de contaminação", explica Jarbas Barbosa, secretário de vigilância em saúde do ministério.

"Os laboratórios públicos (federal, estadual ou municipal –incluindo os das universidades públicas) ou privados não devem tentar realizar as técnicas de isolamento viral, já que as mesmas somente podem ser realizadas em laboratórios dotados de ambiente NB4 [grau do nível de biossegurança]", diz uma nota técnica já distribuída pelo ministério às vigilâncias locais e colocada, nesta terça no site da pasta.

A orientação é para que o sangue do paciente com suspeita da doença seja colhido em condições especiais.

O material deve, então, ser encaminhado em uma caixa especial para análise do CDC (Centros para Controle e Prevenção de Doenças), nos Estados Unidos.

O atual surto de ebola, o maior já registrado, atingiu principalmente Serra Leoa, Guiné e Libéria, que registraram respectivamente 273, 358 e 255 mortes pela doença. A Nigéria registrou uma morte.

Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), o número de mortos chegou a 887.

VIDEOCONFERÊNCIA

Nesta quarta (6), o ministério fará uma videoconferência com as vigilâncias estaduais para tirar dúvidas sobre a identificação da doença e seu manejo, reforçando as orientações internacionais e evitando que qualquer passageiro com febre vindo da África seja tomado como um suspeito.

De acordo com a nota técnica, é suspeito de infecção por ebola pessoas "procedentes, nos últimos 21 dias, de país com transmissão atual de ebola (Libéria, Guiné e Serra Leoa), que apresente febre de início súbito, podendo ser acompanhada de sinais de hemorragia, como: diarreia sanguinolenta, gengivorragia, enterorragia, hemorragias internas, sinais purpúricos e hematúria".

A suspeita deve ser reforçada caso essas pessoas apresentem histórico de contato com pessoas doentes ou participação em funerais de pessoas que morreram pela doença.

Até agora, afirma Barbosa, não há casos suspeitos no Brasil. A hipótese foi levantada em dois casos: em um passageiro que desembarcou em Guarulhos vindo da África do Sul, e em um paciente em Goiânia vindo de Moçambique. Nos dois casos, a suspeita foi prontamente derrubada, diz o secretário.

BRASILEIROS DEVEM EVITAR ÁREAS AFETADAS

O Ministério da Saúde aconselha que brasileiros que vivem nas capitais dos países afetados evitem visitar as áreas rurais atingidas pelo ebola.

Na avaliação de Barbosa, missionários também devem evitar a região afetada. Não há, no entanto, recomendação internacional ou nacional para o cancelamento de viagens a Serra Leoa, Libéria ou Guiné, já que a transmissão para viajantes é tida como remota.

"[As áreas com transmissão] são lugar para profissional de saúde que vai com equipamento de saúde", avalia o secretário.

Segundo ele, já houve contato de empreiteiras pedindo orientações para seus funcionários. Não há indicação de remoção das pessoas, confirma a pasta.

A nota técnica reforça a posição: "Os brasileiros que residem nos países onde há transmissão do ebola (Libéria, Serra Leoa e Guiné) devem evitar deslocamentos para as áreas rurais e vilas onde estão ocorrendo os casos, ficar alerta às informações e recomendações prestadas pelos Ministérios da Saúde desses países e evitar contato com animais ou pessoas doentes".

O Itamaraty diz ter conhecimento da presença de 70 brasileiros na Guiné, sendo alguns missionários e alguns funcionários de empreiteiras. E de 12 brasileiros na Libéria, funcionários de uma empresa. Em Serra Leoa, diz o Itamaraty, há apenas o corpo diplomático brasileiro.


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