Folha de S. Paulo


Museu do 11 de Setembro vende echarpe de seda e cachorro de pelúcia

Há uma loja de presentes no Museu Memorial do 11 de Setembro, inaugurado esta semana em Nova York. Isso deveria nos surpreender? Trata-se, afinal, de um museu, um lugar que certamente será visitado por muitos turistas que vão querer levar suvenires para casa.

E o museu precisa do dinheiro dos visitantes, além do que recebe em doações e ingressos, para cobrir os US$63 milhões que gastará anualmente para ficar aberto. Mesmo em um projeto de natureza tão delicada, na fase de planejamento do museu a loja de presentes deve ter parecido nada mais que bom senso.

Mas não é essa a ótica de alguns dos primeiros a visitá-lo, que fazem parte das pessoas que têm uma ligação pessoal com o 11 de setembro. "Acho que é um empreendimento com fins lucrativos, para propiciar salários inflacionados", disse Diane Horning ao "New York Post", "e estão dispostos a fazer isso em cima do corpo de meu filho."

Editoria de Arte/Folhapress

No caso, suas palavras representam uma verdade quase literal. O museu é subterrâneo, tendo sido construído ao lado de um "repositório de restos mortais" que contém aproximadamente 8.000 partes de corpos não identificados, entre os quais, muito possivelmente, os de Matthew, o filho de Horning, cujos restos nunca foram localizados.

Os itens à venda na loja de presentes são outra questão delicada. Alguns deles parecem converter a lembrança do 11 de setembro numa declaração de estilo.

Há um agasalho preto de moletom, com capuz, ostentando a imagem das torres gêmeas e as palavras "É na escuridão que brilhamos mais forte" (US$39). Há uma echarpe de seda com o desenho das torres gêmeas, em cores (US$95). Há até um cachorrinho de pelúcia das equipes de resgate (US$19,95). Se alguém vai comprar esses artigos ou não é algo que teremos que aguardar para ver.

Enquanto isso, e em defesa do novo museu, vale observar que essa é de longe a primeira loja de presentes no mundo a rememorar um fato histórico.

Quatro outros museus que vendem suvenires de caráter delicado:

Auschwitz-Birkenau

No palco daquela que talvez tenha sido a maior atrocidade cometida na história recente, e, de fato, no site oficial do museu de Auschwitz, é possível adquirir CDs e DVDs memoriais, cartões postais, livros e pôsteres. Algumas pessoas acham isso estranho, mas é tudo feito de modo muito solene, e os artigos à venda são de cunho apenas educacional. Com certeza não há nada que possa ser vestido ou calçado.

Museu Imperial da Guerra

Sinta a "experiência do tempo da guerra" no Museu Imperial da Guerra

Além de conservar muitos tanques e canhões antigos, parte do que o museu visa fazer é documentar a "experiência vivida durante a guerra", incluindo como era a vida no Reino Unido durante a Primeira Guerra Mundial. Por isso, na loja de presentes do museu é possível comprar uma "lata vintage de bolo de Marmite" por 10 libras ou até um "despertador retrô" vermelho ou verde.

Museu do Memorial de Paz de Hiroshima

Além de um parque da paz e de algumas exposições verdadeiramente tenebrosas, há uma loja de presentes no local da explosão nuclear que matou mais de 100 mil pessoas em 1945. Há livros, é claro, mas também suvenires e camisetas destacando o tema da paz.

O Museu da Grande Guerra

Os livros sobre a Primeira Guerra Mundial são o tema principal em Peronne, no norte da França, perto do local da Batalha do Somme. Mas também há pôsteres, DVDs e até soldadinhos de brinquedo e modelos de aviões.

Tradução de CLARA ALLAIN


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