Folha de S. Paulo


Veja quais são as principais teorias sobre o desaparecimento do avião da Malásia

Mais de uma semana após o desaparecimento do Boeing 777 da Malaysia Airlines, que ia de Kuala Lumpur a Pequim na sexta-feira 7 de março (no horário de Brasília) com 239 pessoas a bordo, muitas perguntas continuam sem resposta, aprofundando o mistério sobre o paradeiro do avião e a especulação sobre as ações dos tripulantes.

Quem estava pilotando o avião quando ele desapareceu?

Especialistas em aviação sugerem que a desativação dos sistemas de comunicação e a navegação do avião implicam que ele estivesse sendo pilotado por alguém com considerável experiência de voo e conhecimento técnico - o que inevitavelmente conduz as atenções ao comandante e ao co-piloto.

Novas suspeitas foram despertadas pela notícia de que as últimas palavras registradas na cabine de pilotagem - "tudo bem, boa noite" - foram ditas depois que os sistemas de comunicação foram desligados.

Mas funcionários do governo malásio não informaram qual dos pilotos estava falando. Na verdade, talvez não saibam se era de fato algum dos pilotos. "É uma comunicação por rádio, e vozes podem ser distorcidas", disse Paul Drechsel, especialista em controle de tráfego aéreo na Universidade de Dakota do Norte, nos Estados Unidos.

As comunicações de voz com o controle de tráfego aéreo são gravadas como parte da rotina operacional, nos Estados Unidos, ele acrescentou. Mas mesmo que esse também seja o caso na Malásia, não está claro quanto uma gravação poderia revelar.

O ministro dos Transportes da Malásia declarou no domingo que os dois homens não haviam pedido para voar juntos, sugerindo que mesmo que um deles tivesse planejado desviar a rota do avião, era improvável que os dois tivessem agido juntos.

O piloto de outro voo, que tentou contatar o MH370 pouco depois da 1h30min a pedido das autoridades de controle de tráfego aéreo vietnamitas, que não estavam conseguindo se comunicar com o avião, acredita que tenha ouvido o co-piloto, em meio ao ruído de uma comunicação prejudicada por interferência, mas não está certo disso.

O que sabemos sobre a tripulação e os passageiros?

A polícia anunciou em 11 de março que estava estudando o histórico de todos os tripulantes e passageiros - mas foi apenas no final de semana que conduziu buscas nas residências do comandante e do co-piloto. O inspetor geral Khalid Abu Bakar disse que as autoridades "não viram necessidade disso nos estágios iniciais".

Ele declarou em entrevista coletiva que "algumas agências de inteligência estrangeiras verificaram todos os passageiros e não encontraram problemas", mas acrescentou que alguns países ainda não haviam respondido a pedidos de verificação de antecedentes.

Não está claro, a essa altura, até que ponto foram completas as verificações sobre o resto da tripulação e os passageiros; será que simplesmente foram verificados quanto a conexões com organizações criminosas ou terroristas? Sua possível experiência de pilotagem foi averiguada? Possíveis problemas pessoais foram avaliados, como a polícia sugeriu aconteceria, mais cedo na semana?

Por que ninguém que estava a bordo interveio?

Houve quem perguntasse por que ninguém lançou um alerta, em um voo cuja duração se estendeu tanto - por que os passageiros não fizeram telefonemas, como aconteceu a bordo do voo 93 da United Airlines, um dos quatro que foram tomados pelos terroristas nos ataques do 11 de setembro de 2001?

Pode ser que, ao menos inicialmente, passageiros e tripulantes não estivessem informados de que havia algo de errado. Se, por exemplo, um dos pilotos usou a força para incapacitar ou coagir o colega, as pessoas fora da cabine de pilotagem talvez não estivessem cientes do problema.

Outra possibilidade é que os passageiros e a tripulação de alguma forma tenham sido forçados a cumprir ordens por medo, seja como resultado de ameaças ou da presença de um cúmplice na cabine.

Uma terceira teoria é que a aparente subida do avião para uma altitude de 13,5 mil metros, logo depois que sua rota foi desviada, pode ter sido planejada para incapacitar as pessoas a bordo por hipóxia - privação de oxigênio - o que rapidamente causa desorientação e inconsciência, e pode levar à morte.

Mas as leituras de radar não são absolutamente certas, e de qualquer forma o Boeing 777 está certificado para operar a até 12,9 mil metros de altitude; imaginar que a cabine se tenha despressurizado por uma diferença de altitude de apenas 600 metros parece improvável.

Também há um suprimento de oxigênio de emergência para os tripulantes na cabine, além das máscaras de oxigênio do sistema de emergência do avião. Um plano como esse seria complicado demais e teria baixa possibilidade de sucesso.

Por fim, é possível que mais de uma explicação seja relevante. Se quem quer que tenha desviado o avião estabeleceu uma nova rota, o avião poderia ter continuado a voar por horas mesmo que a pessoa em questão terminasse incapacitada por algum motivo, como a hipóxia. Há casos de aviões que voaram por milhares de quilômetros com tripulações inconscientes.

O que poderemos descobrir com as gravações de voz da cabine?

O problema é que o avião e os dados de voo e o registro de comunicações de voz de sua "caixa preta" precisam ser encontrados, primeiro. Se o avião caiu no sul do Oceano Índico, uma probabilidade que algumas autoridades indicaram temer, as equipes de busca precisam encarar uma ampla extensão de oceano com poderosas correntes, em uma área apenas parcialmente coberta por radares, de modo que detectar os movimentos finais do avião pode ser extremamente difícil.

Mesmo que a localização aproximada seja conhecida, a força do sinal transmitido pela caixa preta pode ser afetada pela profundidade da água e por sua possível posição por sob destroços. Eles só continuam a transmitir sinais posicionais por 30 dias - o que significa que o tempo disponível para buscas é limitado.

Os registros de voo do avião da Air France que caiu no Oceano Atlântico em 2009 foram encontrados quase dois anos mais tarde.

Mas porque os gravadores da cabine da cabine de pilotagem são capazes de gravar no máximo as duas últimas horas de sons do voo, parece improvável que tenham registrado quaisquer pistas sobre talvez a mais crucial porção do voo: o ponto em que ele muda de rota.

Pode ser que não haja indicações sobre a entrada de alguém na cabine, ou se um piloto decidiu alterar o rumo do avião por vontade própria.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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