Folha de S. Paulo


Francisco dá novo ânimo a católicos, mas não muda atitudes, diz estudo

Um ano depois de iniciada a era do papa Francisco, uma pesquisa constatou que a grande maioria dos católicos americanos acha que o papa assinalou uma importante mudança de rumo para a Igreja e uma mudança para melhor.

Mas a popularidade do pontífice não inspirou mais americanos a irem à missa, se confessar ou se identificar como católicos. O fato sugere que, até agora, o muito falado "efeito Francisco" está influenciando atitudes, mas não comportamentos.

Francisco é mais popular entre católicos americanos que o papa Bento 16 era em fevereiro do ano passado, quando renunciou repentinamente ao pontificado, revelou a pesquisa, que deve ser divulgada na quinta-feira pelo centro Pew de pesquisas.

Mas Francisco não alcançou o altíssimo índice de popularidade comandado por João Paulo 2º no auge do pontificado deste, na década de 1990, quando ele foi considerado responsável por ter ajudado a derrubar o governo comunista em seu país natal, a Polônia.

Está claro que Francisco, que atrai adolescentes para suas audiências de quarta-feira e gera comentários no Twitter com cada declaração pública que faz, injetou ânimo novo na Igreja.

Mas a pesquisa constatou que Francisco elevou as expectativas de transformações importantes, apesar de já ter declarado que talvez não modifique as posições da igreja em relação a questões doutrinais espinhosas.

Quase seis em cada dez católicos americanos entrevistados na pesquisa preveem que até 2050 a igreja certamente ou provavelmente vai revogar a proibição do controle de natalidade.

Metade acha que a igreja vai autorizar os padres a se casarem. Quatro em cada dez disseram que a igreja vai aceitar mulheres no sacerdócio, e mais de dois terços disse que até 2050 a igreja vai reconhecer o casamento homossexual.

Uma maioria grande dos católicos americanos quer que a igreja mude de posição em relação às três primeiras questões, e metade quer que a igreja reconheça o casamento entre pessoas do mesmo sexo.

"Neste momento, porque o papa ainda é relativamente novo no cargo, as pessoas estão levando a sério os sinais que ele transmite", disse Mark J. Rozell, reitor interino da escola de política pública da Universidade George Mason e estudioso do papel dos católicos na política americana. "Mas isso não quer dizer que essas mudanças irão necessariamente acontecer."

Após a renúncia do papa Bento, em fevereiro do ano passado, 70% dos católicos americanos identificaram como prioridade do novo papa "lidar com o escândalo dos abusos sexuais". Um ano depois, 54% disseram que Francisco está fazendo um trabalho bom ou ótimo em lidar com esse problema.

Muito mais católicos disseram que ele está cuidando bem de outras questões prioritárias, como a difusão da fé católica (81%), a defesa dos valores morais tradicionais (81%), o atendimento às necessidades e preocupações dos pobres (76%) e a reforma da burocracia do Vaticano (62%).

Indagados se Francisco representa "uma mudança importante de direção", 71% dos entrevistados opinaram que sim.

A pesquisa é um primeiro instrumento para avaliar se o primeiro pontífice versado no uso de mídias sociais está tendo um efeito sobre o comparecimento dos fiéis à igreja ou sobre as conversões.

A irmã Mary Ann Walsh, diretora de relações com a mídia da Conferência de Bispos Católicos dos Estados Unidos, disse que sua entidade vem recebendo relatos sobre igrejas mais cheias, aumento nas doações e mais pessoas indo se confessar, "mas não temos provas concretas".

Alguns padres e leigos falam em um "efeito Francisco", com católicos retornando às igrejas e mais entusiasmo visto por parte dos fiéis.

O entusiasmo cresceu, com um quarto dos católicos americanos dizendo que estão "mais envolvidos" com sua religião e 40% relatando estar orando com mais frequência. Mas a pesquisa mostrou que a frequência dos fiéis nas igrejas não mudou no último ano; 40% dos entrevistados disseram que vão à missa pelo menos uma vez por semana.

Quanto à confissão, apenas 5% dos católicos disseram que foram se confessar mais vezes no último ano, contra 22% que foram menos. O número de católicos que fazem trabalho voluntário na igreja ou comunidade não aumentou, e a porcentagem de americanos que são católicos, 22%, continua igual à de um ano atrás.

"Esses dados poderiam ser interpretados como sinais de que Francisco não teve impacto", comentou o padre Thomas Reese, analista sênior do "The National Catholic Reporter". "Por outro lado, como a frequência às igrejas vem caindo desde os anos 1950, o fato de que não diminuiu neste último ano pode ser visto como uma vitória."

Feita entre 14 e 23 de fevereiro, a sondagem incluiu 1.821 adultos e tem margem de erro de três pontos para mais ou para menos para todos os americanos e de seis pontos para o subgrupo de 351 católicos.

Tradução de CLARA ALLAIN


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