Folha de S. Paulo


China condena mais dois ativistas

Mais dois ativistas chineses foram condenado nesta quarta-feira em um tribunal de Pequim por participar de campanhas contra a corrupção no governo.

A condenação de Hou Xin e Yuan Dong ocorre três dias após a sentença de quatro anos de prisão imposta a um dos líderes do movimento a que eles pertenciam, o advogado Xu Zhiyong.

Xu, 40, é o ativista mais influente a ser mandado para a prisão desde a condenação a onze anos do escritor Liu Xiaobo, em 2009. Liu, que ganhou o Nobel da Paz de 2010, continua preso.

Na decisão anunciada nesta quarta pelo tribunal em Pequim, Hou Xin e Yuan Dong enfrentavam a mesma acusação que levou à sentença de Xu, "reunir pessoas para perturbar a ordem".

Yuan foi condenado a um ano e meio de prisão. Hou, apesar de condenada, escapou da pena de prisão porque o tribunal considerou seus delitos "menos graves".

Yuan e Hou estavam entre os quatro ativistas que exibiram faixas de protesto e fizeram discursos públicos numa movimentada área de Pequim em março do ano passado, exortando as autoridades a revelar seus bens.

Ambos faziam parte do movimento "Novos Cidadãos", fundado pelo advogado Xu Zhiyong e outros ativistas em 2012, pouco antes da chegada ao poder da nova liderança chinesa, encabeçada por Xi Jinping.

O movimento, que chegou a ter cinco mil membros, pedia transparência no governo e igualdade no sistema de educação, mas esbarrou na intolerância das autoridades a críticas.

Uma campanha de repressão no ano passado resultou na prisão de dezenas de ativistas, muitos do movimento Novos Cidadãos, em meio a uma escalada de repressão a críticos do governo.

Os ativistas afirmam que não desrespeitaram a lei e que as condenações são políticas, destinadas a asfixiar a dissidência no país.

"Eles não apenas são inocentes, como estão entre as melhores e mais extraordinárias pessoas na China", disse à agência Reuters o advogado de Yuan, Chen Jiangang. "Eles são a consciência da China".

Assim como ocorrera no caso de Xu Zhiyong, a condenação desta quarta-feira também geraram críticas dos Estados Unidos.

"Estamos profundamente desapontados", disse Daniel Delk, da embaixada norte-americana em Pequim.

"Nossa preocupação é que a condenação de hoje, como a do jurista e defensor de direitos Xu Zhiyong, tenha sido uma retribuição por sua campanha pública para expor a corrupção oficial e pela expressão pacífica de suas opiniões", disse Delk.

A União Europeia e grupos internacionais de direitos humanos também criticaram as condenação de Xu.

Desde que tomou posse como presidente, no ano passado, Xi Jinping lançou uma campanha contra a corrupção que colocou várias autoridades sob investigação e alguns no banco dos réus.

Entretanto, o governo reagiu com intolerância quando movimentos civis se mobilizam pela transparência.

JORNALISTA FORÇADO A SAIR

Além de aumentar o controle sobre a imprensa local e a censura na internet, o governo também tornou mais difícil o trabalho dos correspondentes estrangeiros baseados no país.

Em nota divulgada nesta quarta, o Clube dos Correspondentes Estrangeiros da China (FCCC, na sigla em inglês), protestou contra a decisão do governo de não renovar o visto de residência do jornalista Austin Ramzy, do "New York Times".

Ramzy terá que deixar o país amanhã, quando vence o seu visto atual. Ele vivia há seis meses na China e até junho trabalhava para a revista "Time", quando se transferiu para o NYT.

É o terceiro repórter do jornal que tem o visto de residência negado desde que o NYT publicou uma reportagem sobre a fortuna da família do ex-premiê chinês Wen Jiabao, em 2012.

Além disso, o site do jornal está com o acesso bloqueado na China desde então.

O governo chinês disse que Ramzy violou as regras do visto e por isso deve deixar o país, mas o FCCC questiona a alegação, pois outros jornalistas na mesma situação não tiveram o mesmo tratamento.

"Nessas circunstâncias, é difícil evitar a conclusão de que as autoridades estão punindo o 'New York Times' pelos artigos sobre o premiê Wen Jiabao e sua família. Tal comportamento não cumpre os padrões internacionais", diz a nota do FCCC, ao qual o correspondente da Folha é filiado.

Na semana passada, um relatório do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (CIJI), afirmou que familiares de vários dirigentes comunistas, entre eles o presidente Xi Jinping, mantem contas secretas em paraísos fiscais.

Desde então estão bloqueado no país os sites do CIJI e de jornais que publicaram a investigação, entre eles o britânico "Guardian", o francês "Le Monde", o espanhol "El País" e o alemão "Sueddeutsche Zeitung".


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