Folha de S. Paulo


Venezuela fecha as urnas de olho no índice de abstenção

A dona de casa Efigênia Suárez, 66, contou, olhos marejados, que acenderia uma vela para Hugo Chávez neste domingo, para marcar um ano da última vez em que o esquerdista discursou à Venezuela em cadeia de TV, em 8 de dezembro passado - ele morreria menos de três meses depois.

Efigênia, moradora da favela do Petare, acabara de votar no candidato governista para prefeito de Sucre, um dos municípios que formam Caracas. Desde 2008 nas mãos da oposição, Sucre era uma das disputas mais importantes das eleições locais deste domingo, consideradas um termômetro da aceitação do governo do herdeiro do chavismo, Nicolás Maduro.

Ela tinha, no entanto, pouco a dizer sobre o candidato chavista local, o ex-jogador de beisebol e cantor popular Antonio "El Potro" Álvarez. Seu compromisso era com Chávez. "Nunca vai existir ninguém a igual a ele. O que ele fez ninguém fez", afirmou ela, mãe de 9 filhos, enumerando programas sociais, a venda de comida subsidiada pelo Estado e a esperança que tem de ser incluída num programa de aposentadoria criado pelo chavismo. "Não acho que seja certo mudar de voto [votar na oposição]."

Carlos Garcia Rawlins/Reuters
Soldado da guarda de honra presidencial vota nas eleições municipais, em Caracas
Soldado da guarda de honra presidencial vota nas eleições municipais, em Caracas

A algumas quadras dela, o mototaxista Martín García, defendia seu candidato, o atual prefeito oposicionista Carlos Oscariz, um dos principais aliados do governador e líder da oposição, Henrique Capriles.

"Ele algumas coisas bem, como aquela quadra poliesportiva ali", dizia, apontando um complexo que inclui até pista de gelo, em pleno Petare. "O problema é esse lixo e a delinquência", disse. O lixo acumulado na cidade, e em outras do país, é motivo de troca de acusações entre governistas e oposicionistas.

LEALDADE
O sentimento da dona-de-casa do Petare em relação a Chávez era uma das apostas de Maduro para obter vitórias nos 337 postos em jogo _o governo decretou que o dia da eleição era o dia de "amor e lealdade" a Chávez.

Mas nem só de mística e gratidão se movia o chavismo, assustado pela apertada vitória de Maduro para chegar à Presidência em abril, por menos de 2% dos votos, apenas um mês depois da morte do mentor, e enfrentando uma crise econômica com inflação anual de mais de 50% e escassez de produtos básicos.

Uma das armas para motivar a militância foi o chamado "efeito TV de plasma", o apelo popular da redução compulsória dos preços de eletrodomésticos decretada por Maduro no mês passado.

A outra, já tradicional, é a pesada máquina de seu partido, o PSUV. Em ação ontem no Petare, a estrutura envolvia um exército de mototaxistas vestidos com camisas do candidato oficial para contatar transportar eleitores, forma de contornar a em geral baixa participação em eleições locais.

O nível de abstenção era tido por governistas e oposicionistas como fator crucial para decidir o vencedor em locais disputados e cidades como Maracaibo, capital de Zulia, o coração petroleiro do país. Como Sucre, a cidade está nas mãos da oposição. Como na cidade caraquenha, a decisão do chavismo foi escolher um candidato "não tradicional", o apresentador da TV estatal, Miguel Pérez Pirela, filósofo com mestrado na Sorbonne, em Paris.

RESULTADO APERTADO
Tanto oposição como chavismo fizeram apelos para que os eleitores fossem votar - "operação avalanche", segundo os antichavistas, e "operação arremate", segundo os governistas. Além das principais cidades do país, os dois lados disputam o título de vencedor do voto na contabilidade nacional.

Maduro pediu, no sábado, "serenidade" ante possíveis resultados apertados. "É possível que prefeituras sejam altamente disputadas. Como é normal, pode haver alguns resultados apertados."

O presidente prometeu participar, ainda ontem, de atos públicos em homenagem a Chávez.


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