Folha de S. Paulo


Problemas atrasam ajuda a vítimas de tufão

Enquanto autoridades filipinas contam as vítimas da passagem do tufão Haiyan, que pode ter matado mais de 10 mil pessoas, uma nova tempestade, a dificuldade de acesso às áreas afetadas e uma onda de saques atrasam a ajuda às vítimas.

Apesar de bem mais fraca, a tempestade Zoraida deve trazer muita chuva, atrapalhando o trabalho humanitário. A previsão é que atinja o país entre hoje e amanhã e siga o percurso do Haiyan.

Na última segunda-feira (11), o presidente Benigno Aquino 3º declarou estado de catástrofe no país, o que permite ao governo controlar os preços e desbloquear fundos de emergência.

A brasileira Graziella Piccolo, número dois da Cruz Vermelha nas Filipinas, disse à Folha que 11 caminhões da organização com suprimentos estão em trânsito, mas não conseguiram chegar às áreas mais afetadas.

"O maior desafio é alcançar as pessoas que estão em áreas longínquas, já que estradas e pontes foram danificadas. O mau tempo dificulta ainda mais", disse.

Aviões dos EUA auxiliavam na segunda-feira (11) o Exército local a entregar ajuda aos moradores.

CAMINHÃO DISFARÇADO

A segurança também preocupa, pois a falta de suprimentos e de policiais em quantidade suficiente levaram a uma onda de saques.

Para diminuir o risco de ataques, a Cruz Vermelha enviou seus caminhões com a ajuda humanitária sem identificá-los com o símbolo da organização, disse Piccolo. Na segunda-feira (11), mais lojas foram saqueadas em Tacloban, a cidade mais devastada.

O Exército filipino confirmou até agora 942 mortes, mas estima-se que o número seja muito maior.

A ONU teme que o total possa superar os 10 mil e advertiu que o mundo pode esperar pelo pior quando for feito o balanço final. Segundo suas estimativas, cerca de 9,8 milhões de pessoas foram afetadas, quase 10% da população, e 660 mil tiveram de deixar suas casas.

"Esperamos que a cifra de mortes não seja muito maior. Apesar de o acesso a alguns locais revelar mais vítimas, as projeções têm sido estáveis", disse o diretor da Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU, John Ging.

Ele pediu prudência, lembrando que inicialmente se esperava número significativamente menor de vítimas.

Ging ressaltou que as prioridades são enterrar os mortos, devido a questões de saúde pública, e providenciar o envio de água, comida, remédios e equipamentos para a purificação da água.

A secretária-geral-adjunta da ONU para Assuntos Humanitários, Valerie Amos, viajou ao país após anunciar a liberação de US$ 25 milhões do Fundo Central de Resposta a Emergências.

As comunicações também são problema para as equipes de socorro. "Nosso escritório em Tacloban foi inutilizado. Estamos ainda operando de forma improvisada, e a comunicação é muito difícil", contou Piccolo, que está desde 2011 nas Filipinas.

Em Cebu, capital da ilha de mesmo nome, que fica em frente a Leyte, onde está Tacloban, a situação é de normalidade. O voo de Hong Kong que a reportagem da Folha utilizou para chegar à ilha estava lotado, e os turistas não pareciam preocupados com a catástrofe.

Já enfraquecido, o Haiyan atingiu o Vietnã na segunda-feira (11), deixando cinco mortos, e China, matando seis.

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AEROPORTO
Em Tacloban, cidade mais afetada pelo tufão, o aeroporto se tornou um local de peregrinação. Apesar de as instalações terem sido danificadas pelos fortes ventos, os sobreviventes enfrentam a estrada até o local --parcialmente bloqueada por destroços de casas e por centenas de corpos-- em busca de comida e água, e na tentativa de deixar a região.

FAMÍLIA DESAPARECIDA
Pelo menos 30 pessoas de uma mesma família estão desaparecidas desde a passagem do Haiyan. Rogelio Tan, 68, a mulher e os filhos e netos do casal não contataram família desde a sexta-feira, segundo Daisy Nemeth, sobrinha de Tan que vive em Hong Kong. "Minha prima está desaparecida com seus seis filhos, com idades entre 9 e 19", disse Daisy à CNN.

GREVE DE FOME
Durante a reunião de abertura da COP-19 (conferência do clima da ONU), em Varsóvia, o diplomata Naderev "Yeb" Sano, chefe da delegação das Filipinas, anunciou que fará greve de fome até que haja avanços na mobilização de verbas para países atingidos por mudanças climáticas. Sano se emocionou durante o anúncio e foi aplaudido, de pé, por membros de delegações de vários países em desenvolvimento.

DOAÇÕES
O papa Francisco decidiu na segunda-feira (11) fazer uma primeira contribuição de US$ 150 mil para ajudar as vítimas do tufão. Entre os países que já fizeram doações para as Filipinas estão a Austrália, com US$ 9,5 milhões, e o Reino Unido, com US$ 9,6 milhões. A Comissão Europeia doou cerca de US$ 4 milhões.

Editoria de Arte/Folhapress

Com agências de notícias


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