Folha de S. Paulo


Irã levará novo plano de negociação nuclear a Genebra

O Irã apresentará um plano em três etapas como parte de sua nova estratégia nas negociações nucleares multilaterais, que serão retomadas formalmente hoje, em Genebra.

"Para [as potências], construir confiança significa adotar medidas no tema nuclear. Para nós, significa levantar sanções", disse anteontem o vice-chanceler e negociador Abbas Araghchi à agência Isna. Mas ele não detalhou o conteúdo da oferta a ser apresentada ao P5+1, que reúne as cinco potências do Conselho de Segurança da ONU mais a Alemanha.

O encontro de Genebra abre a retomada formal das negociações nucleares sob a Presidência de Hasan Rowhani, eleito em junho com a promessa de melhorar laços com o Ocidente para aliviar sanções que assolam a economia.

Teerã se diz disposta a fazer concessões importantes para provar que enriquece urânio para fins medicinais e energéticos, não para fabricar a bomba atômica.

Araghchi e o chanceler Mohamad Javad Zarif já aventaram a possibilidade de acatar várias exigências ocidentais, como o fim do enriquecimento de urânio a 20%, nível que permite, em tese, saltar com facilidade para os 90% necessários à bomba.

Na semana passada, o presidente do Parlamento, Ali Larijani, admitiu que Teerã tem estoques de urânio enriquecido maiores que o necessário e está disposta a se desfazer do excedente.

Mas Araghchi ontem descartou enviar o estoque enriquecido a 20% para o exterior, o que significa que o material deverá ser reprocessado em pureza menor ou usado para fins civis em solo iraniano.

Especula-se ainda que Teerã cogita aderir ao Protocolo Adicional do Tratado de Não Proliferação Nuclear, convenção que implica em inspeções muito mais intrusivas.

Setores ultraconservadores no Irã rejeitam os sinais apaziguadores ao Ocidente. Mas fontes diplomáticas confirmaram à Folha que os esforços têm respaldo do líder supremo, aiatolá Ali Khamenei, máxima autoridade do país.

AMBIGUIDADE OCIDENTAL

Ofertas aventadas por Teerã contrastam com a posição ambígua das potências, que até agora não deixaram claro que contrapartida estão dispostas a propor.

Discussões sobre um eventual alívio das sanções se concentram nos EUA. Mas Obama só poderá suspender as punições se obtiver apoio do Congresso, hostil ao Irã.

Ontem, um grupo de dez senadores, entre os quais quatro da oposição republicana, ofereceu a Obama suspender a tramitação de novas sanções, tidas como as mais severas já articuladas, se Teerã interromper todo o enriquecimento de urânio --hipótese descartada.

Outro descompasso envolve o nível de representação em Genebra. O Irã expressou seu desconforto por enviar o chanceler Zarif enquanto as delegações do P5+1 serão lideradas por chefes de departamento nas chancelarias.


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