Folha de S. Paulo


ANP descarta cancelar leilão do pré-sal após suspeita de espionagem

Mal chegou de um road show na Ásia (Japão e China), a diretora-geral da ANP (Agência Nacional do Petróleo), Magda Chambriard, teve que ajudar o governo hoje (9) a apagar um princípio de incêndio, provocado pelas suspeitas de que os dados do campo de Libra, primeira área do pré-sal que será vendida pelo governo brasileiro, teriam sido alvo de espionagem do governo dos Estados Unidos.

Segundo Magda, não há hipótese do leilão, marcado para o dia 21 de outubro, ser adiado. A expectativa do governo é de que haja uma grande disputa por Libra, maior descoberta de um reservatório de petróleo no país. "Não vai ser cancelado. Tem muita gente questionando isso ao governo, mas não vai ser adiado", informou Magda. Ela disse que tanto no Japão como na China os auditórios das apresentações da ANP ficaram lotados, e que, até o momento, entre 16 e 17 empresas compraram os dados sobre Libra.

PETROBRAS PROTEGIDA

Depois de afirmar pela manhã que não iria comentar o assunto, a Petrobras divulgou à tarde nota na qual reafirma a segurança de seus sistemas de computadores. A empresa afirmou em nota que "dispõe de sistemas altamente qualificados e permanentemente atualizados para a a proteção da sua rede interna de computadores" e que executa "todos os procedimentos identificados e reconhecidos como melhores práticas de mercado na proteção de sua rede interna e de seus dados e informações".

Segundo a empresa, o fluxo de dados entre os computadores da empresa e o ambiente externo são monitorados permanentemente. Como exemplo, a estatal citou o fato de que, em média, 90% das mensagens externas de correio recebidas pela Petrobras são descartadas por apresentarem características potencialmente danosas. "Tais características poderiam ter, eventualmente, possibilitado algum tipo de acesso a dados da Petrobras", admitiu a companhia.

O comunicado ressalta, ainda, que os dados dos arquivos da empresa são continuamente atualizados à medida que as centenas de projetos têm andamento. "As informações internas são classificadas e tratadas com soluções tecnológicas, como criptografia, adequadas aos níveis de proteção associados ao risco de prejuízos para a Petrobras, em caso de eventual vazamento de informações", disse a nota.

Sem citar números, a empresa informou que os investimentos em tecnologia da informação e telecomunicações são compatíveis com o Plano de Negócios da empresa. De 2013 a 2017 a companhia pretende investir US$ 236,5 bilhões, de acordo com o seu plano de negócios. "Ataques concorrenciais e outros se tornam cada vez mais complexos, o que continuará a exigir da Petrobras investimentos permanentes e significativos em tecnologia de proteção a dados e informações", explicou.

Mais cedo, o ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa, havia se mostrado preocupado com a possibilidade da espionagem, apesar de também considerar a hipótese remota, devido ao grande investimento da companhia em proteção de dados. "Primeiro tem que confirmar, e se for isso mesmo é um problema de governo, não só da Petrobras", avaliou. "Mas se isso aconteceu realmente, dá uma vantagem muito grande para concorrentes, afinal, foi a Petrobras que descobriu Libra", lembrou.

As ações da Petrobras não foram afetadas pela suspeita de espionagem, operando em alta por todo o dia. Por volta das 18h15, os papéis preferenciais subiam 2,59% e as ordinárias 2,37%.


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