Folha de S. Paulo


Hollande é pressionado a consultar Parlamento sobre ataque à Síria

A crescente rejeição da opinião pública francesa e da oposição a uma intervenção militar na Síria colocou em xeque a decisão do presidente François Hollande de não levar a questão a voto no Parlamento, como ocorreu no Reino Unido e foi proposto nos Estados Unidos.

A dois dias dos parlamentares franceses analisarem em uma sessão extraordinária a postura do país na Síria, que não será submetida à aprovação, multiplicam-se as vozes que pedem que o chefe do Estado solicite autorização do legislativo para uma intervenção.

A Constituição não obriga o Executivo a requerer autorização para envolver o país em uma guerra, mas o exemplo britânico, e a decisão do presidente americano, Barack Obama de buscar o apoio do Legislativo, deixou Hollande, segundo indicou nesta segunda-feira a imprensa francesa, em uma situação "incômoda".

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"Seguindo o que fez David Cameron (primeiro-ministro do Reino Unido) e o que propôs Obama, é evidente que deve permitir esse voto. Perante um tema tão grave como uma intervenção armada na Síria é uma necessidade absoluta", disse o líder no Senado do grupo Europa Ecologia Os Verdes, Jean-Vincent Placé.

Nos preparativos para o que deverá ser uma sessão tensa, Hollande reuniu no domingo (1º) seus ministros da Defesa, Jean-Yves Le Drian, das Relações Exteriores, Laurent Fabius, do Interior, Manuel Valls, e das Relações com o Parlamento, Alain Vidalies.

Nesta segunda, o primeiro-ministro, Jean-Marc Ayrault, receberá os líderes dos grupos da maioria e da oposição nas duas casas do Parlamento para defender uma intervenção, que segundo o governo deverá ser "firme e proporcional" e com caráter punitivo e dissuasório.

Nestas reuniões está previsto que se apresentem as provas que incriminam o regime de Bashar al Assad pelo ataque com armas químicas perpetrado nos arredores de Damasco em 21 de agosto.

PROVAS

Os serviços franceses de inteligência, segundo publicou o "Le Journal du Dimanche", têm provas de que o regime sírio possui mil toneladas de armas químicas e agentes tóxicos como gás sarin, mostarda e VX e que usou esse tipo de arsenal no ataque.

Para Hollande, não se trata de "libertar" a Síria ou derrubar Assad, mas de "pôr freio a um regime que comete o irreparável contra sua população" e de "punir uma violação monstruosa dos direitos humanos".

No entanto, o pedido de uma aprovação no Parlamento, ou a consideração de que isto seria aconselhável, chegou da maioria das forças políticas, que segundo a imprensa francesa se veem reforçadas pelo fato de que 64% dos cidadãos se mostram contrários a uma intervenção.

"Tem o direito de não votar, mas está em uma situação tão incerta que dá a impressão de que não há outra opção. Sua fraqueza o obriga a consultar o Parlamento", disse a ex-ministra de Ecologia e candidata da União por um Movimento Popular (UMP) à prefeitura de Paris, Nathalie Koscuisko-Morizet.

Oficialmente, a decisão de Obama de solicitar a autorização do Congresso não mudou a determinação do governo francês, mas a imprensa coincidiu hoje de que o presidente americano "montou uma armadilha" e que apesar das várias consultas bilaterais pegou Hollande de surpresa.

E entre o aumento da pressão para que não faça prevalecer sozinho seu poder de chefe de Estado, as dúvidas sobre o direito de intervir chegam inclusive de seu próprio partido.

"Se o Congresso americano se opõe a uma intervenção, a França não vai se comprometer sozinha", afirmou hoje a deputada socialista e presidente da comissão de Defesa da Assembleia Nacional, Patricia Adam.


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