Folha de S. Paulo


Inspetores da ONU visitam hospital militar em último dia na Síria

Os inspetores da ONU que investigam o uso de armas químicas na Síria fazem nesta sexta-feira o quarto e último dia de visitas à área da periferia de Damasco onde rebeldes dizem que o regime de Bashar al-Assad usou gás venenoso contra civis.

A oposição afirma que 1.300 pessoas morreram na ação, enquanto a organização Médicos sem Fronteiras cifra as mortes em 355. O regime sírio nega a ação e apresentou à ONU na quarta um documento com provas que incriminariam os rebeldes, que acusam o ditador de ter feito todos os ataques químicos.

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A denúncia foi feita três dias após a chegada dos inspetores da ONU a Damasco para verificar denúncias de armas químicas. Após pressão da comunidade internacional, os agentes começaram a investigar a hipótese, deixando de lado a missão inicial.

Segundo integrantes da missão e testemunhas, os agentes internacionais foram a um hospital militar para ver alguns militares internados que o regime sírio diz terem sido expostos a um ataque químico feito por rebeldes na cidade de Jobar, também na periferia de Damasco, no último sábado (24).

A imprensa oficial disse que alguns soldados inalaram fumaça depois de encontrar agentes químicos em um túnel que tinha sido usado por insurgentes. Segundo a agência de notícias Sana, os militares "sofreram casos de asfixia".

As imagens da TV estatal não pareciam mostrar evidências de armas químicas. Foram exibidos cinco tambores azuis e verdes de plástico, normalmente utilizados para o transporte de óleo, alinhados na parede de uma sala, e várias granadas e morteiros enferrujados.

Nos outros dias, os especialistas visitaram os subúrbios de Mouadimiya, Zamalka e Ain Tarma, ambos na área de Ghouta e dominados pelos rebeldes. Eles conversaram com médicos do Crescente Vermelho e supostas vítimas, além de recolher material militar na região para análise.

CONSELHO

A visita acontece no último dia da missão na capital síria. Os agentes devem deixar Damasco na manhã de sábado e, no mesmo dia, apresentar o relatório preliminar da missão ao secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon. A partir daí, o Conselho de Segurança se posicionará sobre ações contra Assad.

Estados Unidos, Reino Unido e França afirmaram que devem votar a favor de medidas mais incisivas, mas devem contar com o veto de Rússia e China. Nesta sexta, Moscou voltou a dizer que é contra qualquer medida que permita o uso da força na Síria.

O conselheiro diplomático do Kremlin, Yuri Ushakov, afirmou que a intervenção representaria um duro golpe à ordem mundial. "Tais ações, sem levar em consideração o Conselho de Segurança da ONU, atentariam gravemente contra o sistema baseado nas Nações Unidas e representariam um duro golpe à ordem mundial"

O diplomata também elogiou o "não" do Parlamento britânico a uma intervenção militar na Síria. "Isto reflete a opinião da maioria dos britânicos e europeus", disse Ushakov.

Ele, no entanto, não descartou que a questão síria seja abordada na cúpula do G20, que acontecerá em São Petesburgo, nas próximas quinta (5) e sexta (6).


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