Folha de S. Paulo


Proteção da fronteira com a Síria mobiliza os militares israelenses

Do alto de uma colina na região do Golã, o tenente-coronel de israelense Annan Abbas consegue ver a extensão da fronteira com a Síria.

Ele aponta os vilarejos do outro lado da cerca, divididos entre os rebeldes e o regime do ditador Bashar al-Assad. A tarefa de manter segura essa região, afirma, tem se tornado mais complicada com os avanços militares na Síria.

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A Folha esteve numa base de Israel antes da divulgação do suposto ataque químico nos arredores de Damasco.

Abbas, segundo no comando da divisão responsável por esse trecho da fronteira, revela medidas de segurança tomadas nos últimos meses.

Antes, havia dois pelotões responsáveis pela cerca. Hoje há quatro. O número de patrulhas foi de dois para oito. Até o ano passado, os veículos ali não eram blindados.

Militares da ativa, com treinamento mais específico, substituem reservistas.

"Pela primeira vez em 40 anos, Israel mobiliza tanques para exercícios de rotina nas imediações da base", diz Abbas. "Mudou também o modo como observamos a Síria. Antes, havia pontos cegos. Agora, fazemos o monitoramento por radares."

Mohammad Abdullah/Reuters
Usando máscaras de gás, técnicos da ONU inspecionam um dos locais onde teriam ocorrido ataquem com armas químicas, no subúrbio de Damasco
Técnicos da ONU inspecionam um dos locais onde teriam ocorrido ataquem com armas químicas, no subúrbio de Damasco

O tenente-coronel não especifica qual é a área hoje monitorada por Israel, dizendo apenas que é "o espaço que nos influencia do ponto de vista da segurança".

Ele aponta várias posições nos arredores da base, em território sírio. Dois carros estacionados próximos à fronteira, por exemplo, são de insurgentes; uma casa no vilarejo ao pé da colina, o limite atual do alcance do regime.

Pelo monitoramento, o tenente-coronel diz que os rebeldes têm armamentos que incluem lançadores de granadas e rifles Kalashnikov.

Ali das colinas ele viu também episódios centrais do conflito, como a tomada da cidade histórica de Quneitra por insurgentes, há dois meses. O regime retomou o controle, após ofensiva militar.

"Quneitra é um símbolo retórico", diz. A reportagem esteve na passagem para a cidade, sob controle da ONU.

Apesar dos preparativos, Abbas repete a posição oficial da Defesa de Israel de que não interessa ao país se envolver no conflito sírio. "Muitas vezes, não retribuímos os disparos que nos atingem, pois entendemos que são acidentes vindos do confronto entre Assad e rebeldes."

Ele diz que sobreviveu a cinco tentativas de homicídio nos últimos seis meses, mas não sabe dizer de que lado do embate.

A retribuição de ataques, quando ocorre, é feita por meio de mísseis Tamuz, de alta precisão.

"Como militar, não me importa se as agressões são de rebeldes ou do regime", diz. "Minha missão é eliminar qualquer alvo que atacar."


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