Folha de S. Paulo


Síria diz que ataque dos EUA faria 'arder todo o Oriente Médio'

O governo sírio ameaçou os Estados Unidos neste sábado (24) e afirmou que um ataque ao país faria "arder todo o Oriente Médio".

Em trechos de uma entrevista exibida pela TV estatal da Síria, o ministro da Informação, Omran Zubi, afirmou que um ataque americano "não será um piquenique para ninguém sob nenhuma circunstância" e que uma ação como essa "teria graves consequências e seria uma bola de fogo que faria arder todo o Oriente Médio".

O presidente norte-americano, Barack Obama, que, nesta sexta-feira (23) considerou "muito preocupante" a possibilidade de que o regime sírio tenha bombardeado uma área rebelde com armas químicas na quarta-feira (21), analisava hoje, com seus conselheiros, a eventual resposta de seu governo, informou um funcionário da Casa Branca.

Obama ordenou seus serviços de inteligência a "coletar fatos e provas para determinar o que aconteceu na Síria" para tomar uma decisão, explicou.

Editoria de Arte/Folhapress

Washington anunciou pouco antes a mobilização de forças militares que permitam proporcionar opções a Obama caso o presidente ordene uma intervenção na Síria, mergulhada em um conflito que, desde março de 2011, deixou mais de 100 mil mortos, sendo 7.000 crianças, e obrigou milhões de pessoas a fugir, segundo a ONU.

O ministro de Defesa norte-americano, Chuck Hagel, destacou que este fato não significa que tomou uma decisão de intervir na Síria. De fato, o país não quis tirar conclusões precipitadas.

Um responsável pela defesa em Washington informou de que esses meios militares incluem o envio ao Mediterrâneo de um quarto destróier equipado com mísseis de cruzeiro.

Segundo a edição deste sábado do jornal "The New York Times", citando um funcionário de Estados Unidos, as autoridades norte-americanas poderiam tomar como exemplo os bombardeios da Otan na guerra de Kosovo em 1999 para realizar uma ação similar contra a Síria sem um mandato da ONU.

TROCA DE ACUSAÇÕES

Hoje, o regime sírio e os rebeldes trocaram acusações sobre o uso de armas químicas em um ataque na quarta-feira (21) contra os subúrbios de Damasco.

Zubi afirmou que Damasco "jamais utilizou armas químicas", rejeitando as acusações da oposição armada.

"Jamais utilizamos armas químicas na Síria, sob qualquer forma, líquida ou gás", disse o ministro, durante a entrevista. "O Exército sírio não precisa utilizar armas químicas. Seu moral está elevado e realiza progressos diante do terrorismo. Nossas tropas avançam e os terroristas estão acuados."

Já a oposição síria desmentiu as acusações do regime de que teria usado armas químicas e afirmou que se trata de uma estratégia do governo para desviar a atenção de seus próprios crimes.

O ATAQUE

Segundo a oposição síria, o Exército lançou gases tóxicos em uma ofensiva em Ghuta oriental e em Muadamiyat al Sham, áreas no poder dos rebeldes na periferia de Damasco, provocando 1.300 mortes.

O Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH) anunciou neste sábado ter contabilizado 322 mortos vítimas de "gases tóxicos" nas proximidades de Damasco na última quarta-feira (21), baseando-se em novos relatórios médicos.

"A OSDH apurou 322 mortos, dos quais 54 crianças, 82 mulheres e dezenas de rebeldes, e mais 16 corpos não identificados."

A ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF) revelou que cerca de 3.600 pacientes com sintomas neurotóxicos chegaram na quarta-feira a três hospitais da província de Damasco após o suposto ataque com armas químicas.


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