Folha de S. Paulo


Governo diz que Egito está 'mais unido que nunca' e critica imprensa

O governo interino do Egito disse neste sábado que os cidadãos do país "estão mais unidos que nunca" e criticou a imprensa internacional por mostrar "apenas um lado" dos confrontos entre as forças de segurança, manifestantes liberais e aliados do presidente deposto Mohammed Mursi, ligado à Irmandade Muçulmana.

Desde que o islamita foi retirado do cargo pelos militares, em julho, o movimento, que diz ter sido vítima de um golpe, se recusa a negociar com o governo interino, contra quem protesta. Dentre as ações de repúdio, estavam dois acampamentos montados em duas praças no Cairo, desmontados na quarta (14).

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A ação policial que desalojou os manifestantes terminou em confronto e levou a um massacre com mais de 600 mortos. Na sexta (16), os islamitas convocaram uma onda de protestos, chamada de "dia da fúria", que deixou 173 mortos e 1.330 feridos em todo o país, segundo o Ministério da Saúde.

Para o porta-voz da Presidência, Mostafa Hegazy, o governo interino está enfrentando "uma guerra contra as forças do terrorismo" e disse que enfrentará os manifestantes com "medidas de segurança dentro da lei". Ele diz que a retirada de Mursi foi uma resposta ao que chamou de "fascismo religioso e teológico".

"Os egípcios foram às ruas em 30 de junho [dia da maior manifestação contra Mursi] contra os que queriam privá-los de seus direitos básicos e contra as forças do extremismo. Eles foram protestar contra o fascismo religioso e teológico. Hoje, os cidadãos deste país estão mais unidos do que nunca".

O representante acusou os islamitas de provocar uma guerra de atrito contra o Estado e de ter renunciado ao diálogo para atuar com violência. "Quando o Taleban apoia o que está acontecendo nessas ruas, quando a Al Qaeda levanta sua bandeira, você pode ver o resultado".

Hegazy também defendeu as forças de segurança que, para ele, atuaram com "contenção, autocontrole e profissionalismo" e garantiu que haverá investigação de abusos."A ação das forças de segurança foi muito transparente, aconteceu diante das câmeras e tiveram caráter humanitário", disse.

O porta-voz ainda criticou a imprensa internacional por mostrar apenas a repressão contra os militantes islamitas. "Os egípcios ficaram muito desapontados com a cobertura dos eventos. Há um monte de histórias cortadas, como dezenas de igrejas e delegacias atacadas".

CRISTÃOS

Desde o massacre de quarta (14), o governo egípcio culpa a Irmandade Muçulmana pela violência e o saldo mortal no país. A administração provisória foi duramente criticada pela comunidade internacional por causa da ação policial e por não ser capaz de conter a violência.

No entanto, militantes islamitas atacaram dezenas de delegacias e igrejas em todo o país, em especial no sul egípcio, de maioria cristã. Segundo o porta-voz da Igreja Católica no país, Rafic Greiche, 49 templos cristãos foram atacados no país, entre católicos, ortodoxos e protestantes.

Em entrevista à rádio Vaticano, o bispo de Giza, Antonius Aziz Muna, acusou a Irmandade Muçulmana, a rede terrorista Al Qaeda e o grupo radical palestino Hamas de estarem envolvidos nos ataques. Na sua opinião, os islamitas usam os ataques às igrejas para provocar o conflito com o governo.

Os cristãos foram um dos grupos mais beneficiados pela deposição de Mursi, já que eram perseguidos por entidades islâmicas durante o governo do islamita. Um dos principais apoiadores da intervenção militar foi o papa Tawadros 2º, comandante da Igreja Copta.


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