Folha de S. Paulo


Rússia faz protesto formal aos EUA por diplomata acusado de espionagem

O Ministério das Relações Exteriores da Rússia fez nesta quarta-feira um protesto formal ao embaixador dos Estados Unidos em Moscou, Michael McFaul, contra o diplomata acusado de recrutar agentes russos para a CIA (Agência Central de Inteligência, em inglês), órgão internacional de espionagem americano.

Na terça, o Serviço Federal de Segurança da Rússia (FSB, antiga KGB) informou que prendeu Ryan Fogle, terceiro-secretário da embaixada americana em Moscou, acusado de aliciar um agente russo para a CIA. Ele foi taxado de "persona non grata" e deve deixar o país.

AFP
Foto do Serviço Federal de Segurança da Rússia mostra Ryan Fogle prestando depoimento em Moscou após ser preso
Foto do Serviço Federal de Segurança da Rússia mostra Ryan Fogle prestando depoimento em Moscou após ser preso

Em comunicado, a Chancelaria russa informou que o embaixador americano foi recebido pelo vice-chanceler russo, Sergei Ryabkov, e entregou o protesto formal em uma reunião em que discutiram outras questões internacionais.

Fogle foi preso e liberado em seguida após ser entregue a funcionários do Departamento de Estado. Segundo os agentes russos, foram encontrados com ele uma quantidade grande de dinheiro em moeda estrangeira, em especial euros e dólares, um mapa, uma bússola e material para disfarces, como perucas e óculos escuros.

Além do dinheiro e dos disfarces, os agentes russos disseram que o diplomata tinha uma carta, em que são passadas instruções a um russo que teria sido aliciado por ele. No documento, Fogle oferece US$ 100 mil (R$ 260 mil) de entrada e US$ 1 milhão (R$ 2,6 milhões) por ano para "uma cooperação a longo prazo".

A prisão do americano acontece em meio à tensão nas relações entre os dois países, em especial causada pelas acusações de Washington de que Moscou reprime as forças opositoras ao presidente Vladimir Putin e viola direitos humanos.

Em represália, a Rússia impediu a adoção de crianças russos por americanos que, para Moscou, são mal tratadas pelos pais adotivos. Outro ponto de discordância é a posição em relação ao conflito na Síria, em que Washington apoia os rebeldes e Moscou o regime de Bashar al-Assad.

EMBAIXADOR

A conduta do embaixador americano, que está no país desde janeiro de 2012, também é motivo de irritação para os russos. Ele provocou a ira do governo local após receber grupos de ativistas da oposição a Putin e representantes de entidades de direitos humanos.

Outro ponto de impasse foi a acusação feita por McFaul de que a Rússia teria oferecido dinheiro ao governo do Quirguistão para retirar uma base americana do território do país, que é uma ex-república soviética. O local é usado como apoio às tropas dos Estados Unidos no Afeganistão.

Mesmo após o fim da União Soviética, em 1991, Estados Unidos e Rússia mantêm agentes encarregados de espionar os dois países. Em 2010, o FBI (Birô Federal de Investigações, em inglês) prendeu 11 acusados de espionagem para a Rússia em quatro Estados americanos e em Chipre, no mar Mediterrâneo.

Na ocasião, Washington disse que a Rússia infiltrou agentes nos Estados Unidos que se aproximaram de fontes políticas e reuniram informações para a Rússia. Em 2011, o ex-chefe dos Serviços de Inteligência Externa Alexandre Poteev foi condenado a 25 anos de prisão por entregar os suspeitos aos americanos.

Uma delas, Anna Chapman, ficou mais conhecida por sua beleza. Ela foi expulsa dos Estados Unidos e perdeu sua cidadania no Reino Unido, mas foi condecorada na Rússia e chegou a posar nua para uma revista masculina.


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