Folha de S. Paulo


Sérvios do norte do Kosovo rejeitam o acordo entre Belgrado e Pristina

O acordo de normalização das relações entre Sérvia e Kosovo, fechado na sexta-feira (19), foi rejeitado pelos sérvios que vivem no norte desta região por considerarem que o pacto, que a princípio lhes outorga certa autonomia, é prejudicial para seus interesses.

"A Polícia e a Justiça funcionarão, segundo esses acordos, em conformidade com as leis kosovares, e isso é uma retirada definitiva do Estado da Sérvia", disse Krstimir Pantic, um dos líderes dos sérvios do norte do Kosovo, que seguem negando-se a aceitar a autoridade da capital Pristina.

Pantic anunciou para segunda-feira um protesto na cidade de Kosovska Mitrovica contra o acordo, alcançado ontem em Bruxelas, entre os primeiro-ministros sérvio e kosovar, Ivica Dacic e Hashim Thaçi, após dez rodadas do difícil diálogo incentivado pela UE (União Europeia).

O acordo assinado em Bruxelas ainda tem de obter o sinal verde dos governos de ambos os países --o que deve acontecer também na segunda.

Espera-se que os servo-kosovares decidam na manifestação a criação de uma assembleia do norte do Kosovo, instituição não contemplada no acordo oficial.

O ACORDO

Dacic negou que o acordo suponha reconhecer a independência de sua ex-província e disse que essa interpretação é usada pelas autoridades kosovares para mostrar ao seu público que triunfaram nas negociações.

O compromisso tem 15 pontos, centrados principalmente na autonomia para os sérvios que vivem no Kosovo e nas competências que assumirão os municípios com maioria sérvia.

O acordo inclui a criação de um governo e um parlamento próprios para os sérvios do norte, com controle sobre a economia, a educação e a saúde, e a garantia da presença de agentes e comandantes sérvios na Polícia do Kosovo.

O acordo também cria um sistema judiciário próprio, com juízes e promotores sérvios, para tratar dos assuntos dessas comunidades, além de prever eleições municipais.

As duas partes se comprometem também a não bloquear seus respectivos acessos à UE, embora a Sérvia tenha evitado dar sua aprovação expressa à entrada do Kosovo em organismos internacionais.

HISTÓRICO

A Sérvia perdeu o controle do Kosovo em 1999, após os bombardeios da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) que puseram fim a um conflito entre uma guerrilha separatista albano-kosovar e as forças de Belgrado, capital da Sérvia.

Em 2008, o Kosovo --de maioria albanesa-- proclamou sua independência, reconhecida pelos Estados Unidos e pela maioria dos sócios da UE, mas não pela Sérvia e por potências como a Rússia e a China.


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