Folha de S. Paulo


Projeto financiado por ONG tenta trazer músicos de volta

Entre os vários projetos de reconstrução de Nova Orleans, há um com foco na música, uma das principais identidades culturais do local, berço do jazz.

A Vila dos Músicos tornou-se conhecida por financiar casas populares, a preços camaradas, para os músicos da cidade. O objetivo é incentivá-los a permanecer ou até mesmo retornar.

Timothy A. Clary/AFP
Nova casa é erguida em Nova Orleans
Nova casa é erguida em Nova Orleans

O Katrina fez com que a maior parte da população se mudasse para cidades de Estados vizinhos, como Houston e Atlanta (Texas e Georgia, respectivamente). Além dessas cidades, os músicos em particular seguiram para centros americanos onde a cena musical é forte, como Austin ou Nashville.

A fuga ajudou a descaracterizar ainda mais a noite de Nova Orleans: a reportagem viu na Home of Blues, famosa casa de música no French Quarter (o quarteirão da boemia no centro da cidade), uma noite dedicada à música eletrônica.

Um dos moradores da Vila dos Músicos é o lendário cantor e pianista Al Johnson, 73, um dos mais famosos nomes do Mardi Gras, o tradicional carnaval local.

Editoria de Arte/Folhapress

Nascido e criado em Nova Orleans, Johnson perdeu a casa no Katrina. Ele viveu dois anos em Houston, Texas, até retornar para a cidade natal graças ao projeto, uma parceria da organização não governamental Habitat for Humanity com o saxofonista Branford Marsalis, financiador e entusiasta do projeto.

"Nós estamos melhorando. Eu sobrevivi e a vida está melhor", disse Al Johnson.

Segundo a ONG, que atua na cidade há 30 anos, a vila tem 72 casas, 55 delas ocupadas por músicos. Cada residência custa em média US$ 75 mil (R$ 150 mil), divididos em prestações que, mensalmente, saem por US$ 600 (cerca de R$ 1.200).

É com esse valor mensal que a Habitat for Humanity diz refinanciar a construção de outras casas na cidade.

"A alma de Nova Orleans é negra. E é também a música, a comida e o Carnaval. Com as transformações e as novas pessoas que estão chegando, tenho medo de que a próxima geração mude a identidade da cidade e a transforme em um lugar homogêneo como outro qualquer", disse o sociólogo Bill Lennon, morador de Nova Orleans há mais de 30 anos e ex-professor da Universidade de Tulane.

Entre as transformações está o aumento do número de americanos de outras áreas do país que investem comprando casas ou apartamentos na cidade. Segundo Lennon, já existe até movimento de moradores reclamando contra a música que toca madrugada adentro em algumas áreas do centro, uma das marcas registradas da cidade de Louis Armstrong, um dos ícones da história do jazz.


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