Folha de S. Paulo


Resultado de eleição na Venezuela atrasa

A Venezuela teve ontem uma jornada eleitoral sem maiores incidentes, mas que se encerrou com alta tensão política devido às declarações de vitória feitas tanto pela campanha do presidente interino e candidato, Nicolás Maduro, como pelos aliados do opositor Henrique Capriles.

Até às 0h25, o CNE (Conselho Nacional Eleitoral) não havia divulgado nenhum boletim com resultados --o que só costuma acontecer quando os números são irreversíveis.

A demora, maior do que a esperada, é um indicativo que coincidia com o relato de observadores internacionais sobre uma diferença mínima entre os oponentes.

Mesmo sem os dados, o chefe da campanha chavista, Jorge Rodríguez, convocou eleitores a se reunirem em frente ao palácio presidencial para aguardar o pronunciamento de Maduro.

Com sorriso, afirmou que os governistas "defenderão" o resultado nas urnas e com os instrumentos da Constituição, mesmo que a diferença fosse apenas de um voto.

Enquanto isso, Capriles, em sua conta de Twitter, fez sua mais grave acusação contra o CNE (Conselho Nacional Eleitoral) ao afirmar que estariam permitindo votos após o encerramento de mesas.

"Alertamos ao país e ao mundo a intenção de querer mudar a vontade expressada pelo povo", escreveu Capriles no Twitter, pedindo a reprodução da mensagem.

"Sigo recebendo resultados de todo país! Como mudaram as coisas desde 7 de outubro", comemorou o opositor em referência a disputa contra o então presidente Hugo Chávez, quando perdeu por 44% contra 55% dos votos.

Se confirmado um cenário de vitória apertada, independentemente do vencedor, a Venezuela pode mergulhar numa crise política pouco mais de um mês após a morte de Chávez, vítima de câncer.

Chavistas e opositores se reuniram diante dos comandos de campanha. Dirigentes de ambos os lados se acusaram de "irresponsáveis".

Seria uma reviravolta em relação ao cenário previsto pelas pesquisas de opinião, que davam margem de ao menos oito pontos a favor de Maduro, apesar de advertir que Capriles vinha diminuindo a vantagem na última semana.

O ex-chanceler Maduro, 50, começou a corrida eleitoral no mês passado como franco favorito, embalado pelo ambiente de comoção no país pela morte de Chávez.

Nem o governo nem o próprio candidato hesitaram em transformar os atos em odes político-religiosas ao esquerdista, chamado de "Cristo Redentor dos pobres". Já Capriles, mais experiente em sua segunda disputa nacional, arriscou ao mesclar duros ataques ao governo com promessa de reconciliação do país.

POR CHÁVEZ

Maduro seguiu sua estratégia de apresentar o voto em sua candidatura como cumprimento do "último desejo" de Chávez, algo repetido pela maioria de seus eleitores ontem em Caracas.

O ex-chanceler foi votar acompanhado da mulher, a também dirigente chavista Cília Flores, e da família do mandatário morto.

"Minha vida nos últimos 21 anos fiz ao redor de um sonho de um homem, de um gigante. Hoje, quando amanheceu, amanheci com ele, com seu pensamento, com seu canto, com sua obra", disse Maduro, ao votar em Cátia, região empobrecida da capital.

"A história continua. O povo é garantia", disse. Se antes falava de vitória contundente, ontem disse: "Se chegar a perder por um voto, perco. Mas, se ganhar por um voto, ganho e vou ser presidente".

Num discurso inusual para um chavista, o mandatário interino prometeu fortalecer a economia atraindo investimentos, incluindo os externos, "para desenvolver a indústria mista, pública e privada, pequena, média e grande".

Capriles, 40, que se reelegeu governador de Miranda em dezembro, votou em Las Mercedes, região abastada de Caracas. Ele pediu a participação popular nas auditorias ao final da votação, para garantir a lisura dos resultados.


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