Folha de S. Paulo


Rússia avalia em reunião efeitos de confisco de depósitos no Chipre

O governo da Rússia faz uma reunião nesta segunda-feira para avaliar os efeitos do acordo do Chipre com a União Europeia, que confiscou depósitos de cidadãos russos. A medida faz parte do pacto para os cipriotas conseguirem um resgate de € 10 bilhões.

Para conseguir os recursos, o governo do Chipre foi obrigado a juntar € 5,8 bilhões (R$ 15 bilhões). Parte do dinheiro será obtida pelo confisco de depósitos maiores que € 100 mil (R$ 260 mil) feitos nos dois maiores bancos da ilha, o Laiki Bank e o Banco do Chipre. O primeiro, mais afetado pela crise, será fechado.

As instituições financeiras concentram boa parte dos recursos de cidadãos russos, que possuem cerca de € 20 bilhões (R$ 52 bilhões) em depósitos no país, ou 20% de todo o montante depositado no sistema bancário cipriota. Os depósitos abaixo de € 100 mil serão preservados.

O primeiro-ministro russo, Dmitri Medvedev, pediu que fossem calculadas de forma minuciosa os efeitos da crise cipriota para o país e os mercados financeiros mundiais, mas criticou a medida. "Acho que lá continuam roubando o roubado", disse, sem explicar ao que se referia.

Na semana passada, tanto Medvedev como o presidente Vladimir Putin criticaram a medida, chamada por eles de roubo, e o compararam aos confiscos que ocorriam na comunista União Soviética. O presidente da associação de negócios russos no Chipre, Yuri Pianij, chamou a operação de "roubo legalizado".

"A medida viola uma série de acordos internacionais", disse, afirmando que pretende recorrer à Justiça Internacional contra a retenção dos depósitos e que ainda não sabe qual será o impacto sobre os depósitos dos russos.

Devido às baixas taxas de administração e por pertencer à zona do euro, o Chipre era considerado um bom lugar pelos russos para aplicar o dinheiro em euros, em especial de empresários. Parte do montante aplicado pelos russos é suspeito de ser proveniente de atividades ilícitas.

CALMA

O acordo no Chipre gerou calma para as autoridades europeias e os mercados financeiros, tementes de que a crise no pequeno país pudesse se alastrar pelo resto da zona do euro e aumentar as dificuldades geradas pelo aumento da dívida pública.

Um dos principais defensores do confisco, o ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble, chamou o acordo de "equitativo para ambas as partes", mas pediu prudência na reabertura dos bancos do país, que deverá acontecer na terça (26).

O governo cipriota decidirá nesta segunda se reabre ou não o sistema bancário, que está sob a ameaça de uma retirada em massa dos depósitos. Questionado sobre o aumento das retiradas, o ministro alemão disse que não houve grandes movimentos nos últimos dias.

O ministro das Relações Exteriores da França, Laurent Fabius, afirmou que o plano é duro, mas necessário para desfazer o que chamou de "economia totalmente artificial" e "economia de cassino".

"O sistema era incrível. Os juros eram de 5% e, para dar essa remuneração os bancos cipriotas tinham que investir em outras economias de cassino, em particular na Grécia. Os pequenos poupadores não terão que pagar a conta, mas alguém tinha que pagá-la".

Para o presidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy, o acordo era essencial para garantir o futuro da ilha e da zona do euro. Ele disse que continuará trabalhando para implementar o confisco e aliviar o impacto social que poderia ter no país.

Devido ao acordo, a maioria das bolsas asiáticas e europeias operam em alta. O índice Nikkei, da bolsa de Tóquio, sobe 1,69%, enquanto o Hang Seng, de Hong Kong, tem alta de 0,61%. Na Europa, as maiores altas são em Frankfurt (1,20%) e Paris (1,47%).


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