Folha de S. Paulo


Turquia considerou positivo pedido de cessar-fogo de líder curdo

O governo da Turquia considerou positivo o cessar-fogo pedido pelo líder do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK, sigla em curdo), Abdullah Ocalan, nesta quinta-feira. A trégua foi convocada após 29 anos de confrontos entre tropas do país e os guerrilheiros.

Ocalan disse a seus seguidores que abandonem as armas e optem pela via democrática para negociar uma região autônoma. A mensagem foi lida ante milhares de pessoas em evento em Diyarbarkir, cidade que é considerada a capital dos curdos.

O primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, pediu que se aplique a trégua e afirmou que todo o clima na Turquia e na região deverá mudar. "Acho que é uma chamada muito positiva, mas o mais importante é o alcance que terá e como será executado".

Ele, no entanto, lamentou que não houve bandeiras turcas na celebração em Diyarbakir. "Para mim, isso é postura provocadora de pessoas que não se veem afetadas por este processo. Disse uma vez em Diyarbakir que somos uma nação, uma bandeira, um Estado".

Erdogan considera que o gesto e o incentivo de dois deputados curdos para que os integrantes da etnia saiam do país são contrárias à carta de Ocalan. O ministro do Interior, Muammer Guler, recebeu com satisfação a "linguagem de paz" usada pelo líder guerrilheiro, mas também pediu para esperar os resultados do discurso.

CESSAR-FOGO

Em mensagem, Ocalan pediu que os curdos deixem as armas e saiam do território turco. "Hoje é o início de um novo tempo. Um tempo no qual começam os direitos democráticos, a liberdade e a igualdade. As armas devem se calar".

"O derramamento de sangue turco e curdo se deterá. Não serão as armas mas a política que falará. Este não é um tempo de guerra e luta, mas de alianças e compromissos", ponderou.

O anúncio de Ocalan ocorre após 2012 ser o ano mais sangrento do conflito desde o início do século. Ao todo 140 soldados e policiais e mais de 500 guerrilheiros morreram em enfrentamentos no sudeste da Turquia. Desde 1984, mais de 40 mil pessoas morreram devido ao conflito.

Os contatos entre o líder curdo e o serviço de inteligência turco foram confirmados há semanas e ambas as partes disseram que houveram "avanços positivos". Em setembro de 2011, negociações entre o hoje chefe do serviço secreto turco, Hakan Fidan, e delegados do PKK em Oslo foram vazadas ao público e suspensas.

Após o fracasso, Erdogan adotou um discurso duro, inclusive insinuando que Ocalan deveria ter sido executado. Ao mesmo tempo, introduziu reformas históricas como o ensino optativo do curdo em alguns colégios públicos e o uso de "línguas maternas", incluindo o curdo, nos Tribunais.


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