Folha de S. Paulo


Argentina encara escolha do papa com orgulho e bom humor

A escolha do cardeal Jorge Mario Bergoglio como sucessor de Bento 16 encheu os argentinos de orgulho.

"Acho estupendo. Como argentina, fiquei contentísima", diz a professora aposentada Eliana Veiga, 63, que se declara agnóstica.

Ela avalia que Bergoglio "é a pessoa adequada no momento adequado" em que a Igreja "lida com tantos escândalos, como o da pedofilia". Para Veiga, "ele (Bergoglio) sempre se mostrou uma pessoa próxima do povo e alguém que pediu Justiça, não só resignação".

A satisfação de ter um papa argentino também é indisfarçável para a vendedora Mariana Gonzalez, 51. "Falo sobre isso e fico arrepiada. A Argentina estava por baixo. Agora, todos falam da Argentina". Para Gonzalez, Bergoglio "é uma pessoa humilde", mas ela teme pelo que possa acontecer "quando ele tiver que lidar com toda aquela riqueza do Vaticano". A vendedora afirma que sempre a incomodou o contraste entre a opulência econômica do Vaticano e o fato de que "existem crianças que morrem de fome".

Além de se orgulhar de terem produzido um papa, os argentinos também estão aprendendo a brincar com a notoriedade de Francisco.

No bairro de Flores, onde Bergoglio viveu a juventude, um grupo de homens de cabelos brancos indica para a Folha os endereços-chave da rotina do religioso na área e aponta um de seus integrantes com a sugestão: "Entrevista esse aqui, que jogou bola com o papa". Bergoglio é torcedor de carteirinha (literalmente) do time San Lorenzo e conhecido por haver jogado futebol na adolescência. Alguns segundos após a sugestão, os amigos de bairro desmontam o semblante sério e desatam a rir da própria gaiatice.

Tornaram-se comuns piadas de que a Argentina já tinha um Deus --Maradona, que tuitou mensagem com esse teor: "O Deus do futebol é argentino e agora o papa também"--, uma rainha --Maxima Zorreguieta, da Holanda-- e agora tem também um papa. Parece não faltar nada.


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