Folha de S. Paulo


Wall Street pressiona contra criação de contratos futuros de bitcoin

Benoit Tessier/REUTERS
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Os maiores bancos do mundo estão pressionando contra a introdução de contratos futuros de bitcoins

Os maiores bancos do mundo estão pressionando contra a introdução de contratos futuros de bitcoins, e expressaram preocupações às autoridades regulatórias norte-americanas de que o sistema financeiro está mal preparado para o lançamento dos contratos, em meio à disparada no valor da criptomoeda.

O preço do bitcoin subiu a um novo recorde de US$ 16 mil em diversas bolsas nesta quinta (7). Os investidores institucionais estão ansiosos por operar com o ativo, mas apenas em mercados regulamentados.

No entanto, o lançamento de contratos futuros de bitcoins, planejado para os próximos dez dias pela Bolsa Mercantil de Chicago (CME) e pela Chicago Board of Exchange (CBOE), e aprovado pela Comissão de Transações de Commodities e Futuros (CTFC) norte-americana na semana passada, causou reações adversas da parte dos maiores operadores, que ajudam a estruturar as transações do setor.

O QUE SÃO CRIPTOMOEDAS?
O que são e para que servem

De acordo com uma carta enviada pela CFTC à Futures Industry Association, a principal organização de lobby do setor de futuros financeiros, cujos membros incluem todos os maiores bancos de Wall Street, a introdução rápida dos contratos futuros de bitcoins "não permitirá transparência e participação pública no grau requerido".

O grupo de lobby representa alguns dos maiores bancos do planeta, entre os quais Goldman Sachs, Morgan Stanley, JPMorgan e Citigroup.

A CME e a CBOE chegaram a acordo para operar sob um regime de autocertificação, para seus novos contratos, o que significa que as autoridades regulatórias tiveram prazo mínimo para revisá-los formalmente.

A carta encaminhada à CFTC na quinta-feira (7) insiste em que usar um sistema de autocertificação "para produtos novos como esses não se alinha aos riscos potenciais que existem em sua operação, e [o processo] deveria passar por revisão".

A CFTC advertiu na semana passada, durante seu processo de aprovação, que os mercados emergentes de criptomoedas são em geral isentos de regulamentação, e que a agência tinha "autoridade estatutária limitada".

"É também nosso entendimento que nem todos os comitês de risco das bolsas relevantes foram consultados antes da certificação para o lançamento desses produtos", a carta acrescentava.

Os grandes operadores de contratos futuros estão preocupados com a possibilidade de que tenham de arcar com a maior parte do risco associado aos contratos futuros de bitcoins, porque a margem que garante o contrato é depositada junto a uma câmara de compensação.

As câmaras de compensação se posicionam entre as duas partes de uma transação, administrando o risco para o restante do mercado caso uma das partes não cumpra seus compromissos. Elas são financiadas mutuamente, em parte por bancos, como proteção contra a possível quebra de seus maiores integrantes.

Diversas instituições que estão entre os dez maiores provedores de fundos para as câmaras de compensação confirmaram ao "Financial Times" que não compensarão os produtos imediatamente.

O ABN Amro informou aos seus clientes que compensaria transações envolvendo contratos futuros de bitcoin, mas só se eles apresentassem solicitações por escrito, e disse que avaliaria os sistemas de operação do cliente e seu histórico quanto a limites de risco. "Outros fatores poderão ser considerados [pelo ABN], a critério exclusivo do banco", afirmou a companhia em sua notificação.

A CBOE informou que seu mercado de futuros não tinha comitê de risco, mas que consultou seu conselho e seu comitê de fiscalização regulatória. A OCC, a câmara de compensação da CBOE, tem um comitê de risco que revisou o produto.

Em documentos encaminhados às autoridades, a CME anunciou que discutiu as especificações dos novos contratos com seus clientes por cerca de seis meses. A organização não tinha comentários imediatos a fazer, na quarta-feira.

Tradução de PAULO MIGLIACCI

Carolina Daffara/Folhapress

ONDE GUARDAR CRIPTOMOEDAS

Elas são armazenadas em carteiras, que têm senhas gigantes e muito difíceis de memorizar

PAPER WALLET

A senha de acesso às criptomoedas fica guardada em um papel
Desvantagem: Perder o papel, já que não há backup

HARDWARE WALLET

A senha fica off-line, em um pen drive, por exemplo, ou em dispositivo específico para criptomoedas. Ledger e Trezor são as mais confiáveis
Desvantagem: no Brasil, o dispositivo específico custa mais de R$ 500

CARTEIRA ON-LINE

Uma corretora administra as senhas e contas de seus usuários
Desvantagem: A corretora pode sofrer um ataque, ou, se não for idônea, pode orquestrar um golpe

CARTEIRA MOBILE OU COMPUTADOR

A senha fica armazenada no smartphone ou no computador
Desvantagem: os aparelhos podem ser invadidos, ou o usuário pode esquecer que tem bitcoins e formatar o HD

Carolina Daffara/Folhapress

PARA INVESTIR EM BITCOIN

Quem pode?
Corretoras permitem maiores de 18 anos com CPF

Onde investir?
Por meio de corretoras especializadas, que criam carteiras no nome dos clientes para que eles gerenciem seus bitcoins

Há mínimo?
R$ 50, o que dá para comprar uma fração da moeda

Como funciona?
O investidor deve transferir o valor para a corretora, que faz a intermediação com quem deseja vender, como no mercado de ações

Há custos?

As casas cobram taxa de quem compra e de quem vende

Tem IR?
Ganho de capital para venda acima de R$ 35 mil é tributado pela Receita em 15%

Quais os riscos?
Volatilidade; roubo #de moedas por hackers; quebra da corretora; falta de garantia; surgimento de outras moedas

Fontes: Bloomberg e consultores


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