Folha de S. Paulo


Governo britânico muda regras para fundos de investimentos

Justin Tallis/AFP
Theresa May, primeira-ministra britânica
Theresa May, primeira-ministra britânica

A agência britânica que regula o setor financeiro iniciou uma reforma radical no mercado de fundos de investimento do Reino Unido, que tem 7 trilhões de libras sob administração, em um esforço para eliminar conflitos de interesses e restaurar a confiança de poupadores no setor de gestão de patrimônio.

A Financial Conduct Authority (FCA) determinou na quarta-feira (28) que administradores de fundos de investimento alterem estruturas de cobrança e melhorem padrões de governança, após uma investigação sobre competitividade no setor.

As medidas ainda não foram totalmente detalhadas, mas podem tornar o regime britânico de fiscalização do setor de gestão de patrimônio um dos mais severos do planeta, em um momento em que Londres está contemplando seu futuro pós-Brexit.

A FCA levou adiante as propostas a despeito das fortes pressões que sofreu após divulgar esboço inicial de reforma em relatório de tom bastante crítico, no ano passado.

As ideias mais controversas incluíam forçar administradores de investimentos a cobrar honorário único de investidores e a inclusão de dois membros independentes no conselho dos fundos.

A FCA também está atenta aos grupos de capital privado e aos fundos de hedge, por falta de transparência quanto às taxas que cobram.

Mais de 75% das famílias do Reino Unido usam serviços dos fundos de investimentos, incluindo 9 milhões de pessoas que poupam para a aposentadoria por meio de fundos de pensão vinculados aos seus empregadores.

A agência também pediu que o governo a autorize a regulamentar a atuação de poderosas consultorias de investimento como Aon Hewitt, Mercer e Willis Towers Watson. Essas empresas determinam como a maioria dos fundos de pensão britânicos investem seu dinheiro.

Administradores de patrimônio conseguiram, porém, escapar do seu pior medo.

O caso não foi enviado à organização de defesa da concorrência, a Competition and Markets Authority (CMA), com poderes para determinar que empresas mudem suas práticas mesmo que não constate violações nas leis de defesa da livre concorrência.

No dia em que as mudanças foram anunciadas, os preços das ações das empresas de administração de patrimônio subiram ligeiramente.

Mas a Hargreaves Lansdown, uma companhia online, perdeu 2,5% depois que a FCA disse que planejava estudo separado sobre suas plataformas de investimento.

Gina Miller, cofundadora da administradora SCM Direct, disse ser válido investigar as plataformas, que podem cobrar taxas excessivas.

No fim de 2016, a FCA havia anunciado que, provavelmente, encaminharia os consultores de investimento a uma revisão pela CMA.

Depois disso, os três maiores grupos do setor se dispuseram a mudar certas práticas, desde que o caso não fosse encaminhado à CMA.

Na quarta, a FCA declarou que provavelmente não aceitaria a proposta, mas postergou a decisão para setembro.

Daniel Godfrey, presidente-executivo do fundo People's Trust e antigo presidente da associação dos fundos de investimento, afirmou estar desapontado com diversos pontos do relatório, em especial sobre os deveres dos administradores de fundos para com os investidores.

"Creio que eles amaciaram", disse. "A agência regulatória pegou leve quanto a praticamente tudo. Não acho que [o relatório] foi tão bom quanto poderia ter sido."


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