Folha de S. Paulo


Exterior e crise política pesam e dólar sobe para R$ 3,31; Bolsa recua 0,8%

A absolvição do presidente Michel Temer no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) não acalmou o mercado nesta segunda-feira (12). A soma da crise política com o aumento da aversão ao risco no exterior provocou a queda da Bolsa brasileira e levou o dólar a R$ 3,31.

O Ibovespa, índice que reúne as ações mais negociadas da Bolsa brasileira, teve queda de 0,82%, para 61.700 pontos. O volume financeiro foi de R$ 6,84 bilhões, pouco abaixo da média diária do ano, de R$ 8,27 bilhões.

O dólar comercial teve alta de 0,63%, para R$ 3,312. O dólar à vista, que fecha mais cedo, subiu 1,24%, para R$ 3,318.

A avaliação de analistas é de que a decisão do TSE de absolver a chapa Dilma Rouseff-Michel Temer não trouxe alívio aos investidores. "Havia uma expectativa de que, se o Temer permanecesse no cargo, tudo se acalmaria. Ou o mercado estava avaliando erroneamente, ou os investidores encararam a decisão como um fator de descrédito para o país", diz Reginaldo Galhardo, gerente de câmbio da Treviso Corretora.

Para ele, o resultado do julgamento levanta questionamentos sobre a segurança jurídica do país. "Há uma perda da credibilidade política e, agora, da credibilidade no judiciário. Vale a pena investir num país e, num revés, mudarem tudo? A decisão do TSE tira a fé nas instituições."

Paulo Gomes, economista da gestora Azimut Brasil Wealth Management, afirma que o mercado agora volta as atenções para as reformas. "A cada dia está mais distante de a reforma da Previdência ser aprovada e votada. A questão do TSE acaba postergando qualquer tipo de tramitação de reforma no Congresso", diz.

"A gente vai ter que conviver por tempo indeterminado com volatilidade gerada por fatos políticos. Cada vez que se falar de delações, o mercado vai reagir a esse tipo de informação", complementa.

Os investidores se preocupam ainda com o apoio que o governo tem no Congresso. Estava marcada para a tarde desta segunda reunião do PSDB que poderia determinar a saída do partido político do governo Temer.

"A vitória no TSE estava sacramentada, três semanas antes o placar estava dado. Mas o Temer parece mais preocupado em arrumar 172 votos para evitar que o STF (Supremo Tribunal Federal) abra um processo contra ele do que em fazer uma reforma", diz Alvaro Bandeira, economista-chefe do home broker Modalmais.

"Ele vai abrir o saco de bondades para deputados, para a classe média para tentar angariar apoio e obter governabilidade", diz.

Além do fator doméstico, houve um mal estar generalizado no exterior, mesmo com a vitória do presidente francês, Emmanuel Macron, nas eleições legislativas. As preocupações com a política britânica, após a premiê Theresa May perder maioria, e a instabilidade vivida pelo presidente americano, Donald Trump, pesaram nesta segunda-feira.

No radar também está a reunião do Federal Reserve (Fed, banco central americano), que começa nesta terça-feira e vai até quarta. A expectativa é que a autoridade monetária americana eleve a taxa de juros para a banda entre 1% e 1,25% —atualmente, está entre 0,75% e 1%.

Para conter a valorização da moeda, o Banco Central manteve as atuações no mercado financeiro e vendeu 8.200 contratos de swaps cambiais (equivalentes à venda de dólares no mercado futuro) para rolagem dos contratos que vencem julho. A autoridade monetária já rolou US$ 2,050 bilhões do total de US$ 6,939 bilhões que vence no mês que vem.

O CDS (credit default swap), termômetro de risco para o país, teve leve alta de 0,08%, para 237,3 pontos.

AÇÕES

A Bolsa brasileira testou novas mínimas nesta segunda e chegou a recuar 1,5%, abaixo dos 61.597 pontos do fechamento de 18 de maio. Nesse dia, a notícia de que o empresário Joesley Batista havia gravado áudio com Temer fez o mercado acionário desabar 8,8%.

"Já começa a haver uma destruição de valor na Bolsa. Não é mais especulação, havia se estabelecido um piso para recuperação, com entrada de fluxo de capital estrangeiro. Agora esse ponto começa a ser perdido e se dá o início de outro cenário, com perspectiva ruim para o mercado", diz Raphael Figueredo, analista da Clear Corretora.

As ações da Petrobras se beneficiaram da valorização dos preços do petróleo no exterior. Os papéis mais negociados da estatal subiram 0,39%, para R$ 12,90. As ações que dão direito a voto ficaram estáveis em R$ 13,78.

Os papéis da mineradora Vale desconsideraram a alta dos preços do minério de ferro no exterior e fecharam em baixa. Os papéis mais negociados da mineradora caíram 1,94%, para R$ 25,22. As ações que dão direito a voto perderam 1,68%, para R$ 26,84.

A maioria das ações do setor financeiro fechou em baixa. Os papéis do Itaú Unibanco terminaram o dia estáveis. As ações preferenciais do Bradesco recuaram 1,61%, para R$ 26,34, e as ordinárias caíram 1,28%.

As ações do Banco do Brasil recuaram 2,37%, e as units —conjunto de ações— do Santander Brasil se desvalorizaram 0,37%.


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