Folha de S. Paulo


Após ser financiadora, empresária abre start-up de kits para cabelos

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Fachada do salão da Madison Reed em Nova York, nos EUA
Salão da Madison Reed em Nova York, nos EUA

Quando Amy Errett decidiu deixar seu emprego em um fundo de "venture capital" (que aplica dinheiro em pequenos e promissores empreendedores) para criar a Madison Reed, uma empresa on-line que vende kits para coloração caseira de cabelo, alguns de seus colegas expressaram ceticismo.

"Eles questionaram se minha ideia era de só de mais um comércio eletrônico em um mercado maluco que não interessa a quase ninguém", diz Errett.

Não é incomum que empreendedores troquem a batalha no mundo das start-ups pela estabilidade das empresas que financiam essas organizações, mas pouca gente faz o caminho oposto.

"Não é que eu tivesse visões de que tudo seria mágica. Administrar uma empresa é difícil", diz ela, que já teve uma companhia de viagens para mulheres homossexuais.

A ideia de voltar ao empreendedorismo surgiu alguns anos depois que Errett se tornou profissional de "venture capital" e, com isso, saiu em busca de bons negócios.

Mais ou menos na mesma época, ela começou a se preocupar com os produtos químicos fortes que sua mulher, Claire, usava ao retocar o cabelo duas vezes por mês.

Nos jantares em casa, começou a perguntar aos convidados: "Você tinge o cabelo?", "Sabe o que sua tintura de cabelo contém?".

A resposta à segunda pergunta era sempre negativa. E a questão da coloração ainda tem um peso emocional, já que um acidente de tintura pode causar mais lágrimas do que o uso de um par de sapatos horrendos.

"Se você pergunta a uma mulher que marca ela usa, a resposta é sempre que ela não sabe, e que o cabeleireiro é quem escolhe", afirma.

Errett levou adiante sua pesquisa informal ao assistir a 53 amigas e conhecidas durante uma aplicação caseira de tintura e testemunhou "todos os erros e emoções" no processo. Isso a levou a concluir que o setor estava estagnado em termos de produtos, distribuição e tecnologia.

GESTÃO FORTE

Em seu trabalho anterior, Errett usava três critérios para avaliar a possibilidade de investimento nas empresas em estágio inicial: uma equipe de gestão forte, um mercado de dimensões consideráveis e uma qualidade única e atraente no negócio. "Por que alguém compraria o seu produto em vez de outro?" era a forma pela qual expressava essa equação.

Ela usou essa lente para avaliar sua ideia quando concebeu a Madison Reed.

A empresária estava confiante em suas qualidades de liderança e em sua capacidade de montar uma equipe.

Quanto às dimensões do negócio, as tinturas são "um mercado imenso", conta. O setor mundial de produtos de coloração movimentará pouco mais de US$ 29 bilhões (R$ 94,7 bilhões) anuais em 2019, ajudado, em parte, pelo público masculino, de acordo com o grupo de pesquisa de mercado Technavio.

Errett também acreditava que seria capaz de desenvolver um produto melhor.

Cerca de 56 milhões de norte-americanos tingem os cabelos em casa, e muitos optam por retoques ou por trabalhos completos de tintura em intervalos de duas a seis semanas. Para a empresária, a tintura de cabelo é um produto de uso repetitivo, como os aparelhos de barbear e depilação: o cliente voltará para comprar novamente.

Essa combinação foi o fator decisivo para Errett -e para os investidores que ela atraiu. A Madison Reed, sediada em San Francisco, na Califórnia, obteve US$ 45,1 milhões em recursos, boa parte vinda de fundos de "venture capital", como o que ela trabalhava.

O fato de ela ter experiência como empreendedora e como executiva levou Jeff Crowe, da Norwest Venture Partners, a investir na Madison Reed. "Achei que isso a tornaria ainda mais efetiva."

CONCORRENTES DE PESO

A Madison Reed ainda é uma start-up pequena, concorrendo com empresas dotadas de amplos recursos. A L'Oréal e a Clairol são marcas reconhecidas, com amplos orçamentos para contratar modelos e atrizes para ajudar a promover seus produtos e vasta capacidade industrial.

Há alguns anos, a L'Oréal investiu US$ 100 milhões e construiu a maior fábrica do mundo para produtos de coloração capilar, no México.

Em dezembro, a Madison Reed abriu uma loja em Manhattan na qual as pessoas podem retocar sua tintura. Um tratamento de 45 minutos custa US$ 45. Uma caixa de tintura com a marca da empresa custa US$ 25 pelo site, que também vende gloss para o cabelo, pó para retoque das raízes e condicionador.

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VANTAGEM COMPETITIVA
Como a Madison Reed abriu espaço em um mercado dominado por gigantes

PERSONALIZAÇÃO
A empresa investiu em uma ferramenta na qual clientes enviam selfies de seu cabelo por mensagens ou redes sociais, buscando a cor mais adequada entre as opções da marca. Há também um call center com coloristas para atender aos clientes

NATURAIS
Aditivos químicos pesados foram substituídos por ingredientes naturais, como óleos de maracujá e raiz de gengibre; esses produtos são fabricados na Itália, onde as restrições ao uso de componentes químicos nas tinturas de cabelo são mais severas que nos EUA

DISTRIBUIÇÃO
O site da Madison Reed responde por 90% das vendas dos produtos, contra apenas 10% das grandes redes como Sephora, QVC e Ulta Beauty. A marca também investe em salões em cidades como San Francisco e Nova York

INVESTIMENTO
Os produtos são fabricados em uma planta terceirizada. Ao empregar um fabricante externo em vez de investir em uma pequena indústria, a Madison Reed pode dispor de menos capital inicial quando iniciou suas operações, em 2013

42%
do mercado norte-americano de colorantes para cabelo é dominado pelas líderes L'Oréal e Clairol

US$ 465 bilhões
é o valor total da indústria mundial de beleza e cuidados pessoais

Fontes: "The New York Times", Euromonitor e Statista, empresas de pesquisa de mercado


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