Folha de S. Paulo


Após delação, crise corrói valor da JBS e ameaça plano de expansão

Danilo Verpa/Folhapress
Joesley Batista, dono da JBS
Joesley Batista, um dos donos da JBS

A crise desencadeada pela delação dos controladores da JBS corroeu o valor da companhia e criou novos riscos para o ambicioso plano de expansão internacional que ela tenta tirar do papel há meses.

Alvo de várias ações policiais desde o ano passado, a empresa perdeu 46% do seu valor de mercado na Bolsa desde janeiro —um prejuízo equivalente a R$ 15 bilhões.

As ações da JBS subiram 9,53% nesta terça (23), recuperando parte das perdas sofridas na segunda (22), quando o tombo foi de 31,34%. Mas a alta no dia não indica perspectiva melhor, na avaliação dos poucos analistas que se arriscam a delinear cenários para a JBS. Aldo Moniz, analista-chefe da Um Investimentos, diz que surgiram novos fatores de risco para a empresa.

DELAÇÃO EXPLOSIVA
Delação dos irmãos Batista, da JBS, deflagrou crise no governo Temer

A J&F, empresa da família Batista que controla a JBS, está negociando com o Ministério Público Federal um acordo de leniência para continuar tendo acesso a crédito público e terá que pagar uma multa bilionária. Os procuradores pediram R$ 11 bilhões, mas a empresa não aceitou.

"Se a companhia hoje vale cerca de R$ 18 bilhões no mercado, R$ 11 bilhões equivale a 61% do valor dela. É muito", afirma Marco Saravalle, da XP Investimentos.

A empresa também virou alvo de investigações nos Estados Unidos, e investidores americanos começaram a se mobilizar para processar a JBS na Justiça por perdas sofridas com os seus papeis.

A desconfiança dos investidores e a desvalorização das ações fizeram a companhia adiar o plano de lançar ações na Bolsa de Nova York, considerado um passo essencial para que o gigante da carne dê um novo salto em sua expansão internacional.

Há uma crise de credibilidade, segundo José Vicente Ferraz, diretor da Informa Economics FNP. "Pode contaminar a imagem internacionalmente. Quem não tem confiança não faz negócio", diz.

Raio-x da JBS

A desconfiança em relação à empresa pode reduzir sua capacidade de negociação com bancos e fornecedores, mas ainda não há sinais de que isso esteja ocorrendo.

"Só será possível ver quão relevante foi o impacto no resultado do próximo trimestre. Mas é uma empresa que tem ativos reais, máquinas, fábricas para deixar de garantia", diz Saravalle, da XP.

VENDA DE ATIVOS

Nesta terça, a agência de notícias Reuters informou que o Bradesco BBI foi contratado pelos donos da JBS para estudar um plano de venda de ativos, para levantar os recursos necessários para pagar a multa do acordo de leniência. Procurada, a assessoria de imprensa da JBS negou.

Outras dificuldades podem vir de grandes varejistas, como supermercados e redes de fast-food, que têm em seus respectivos códigos de ética cláusulas que exigem idoneidade de seus fornecedores. E consumidores lançaram campanhas de boicote às marcas da empresa nas redes sociais.

Como a empresa cresceu muito no mercado externo nos últimos anos, tem condições de enfrentar a crise sem perda significativa de receitas, dizem analistas. O Brasil representou no ano passado 16% do faturamento da JBS.

Além do adiamento do plano de abertura de capital em Nova York, a empresa poderá se ver obrigada a enfrentar uma série de processos nos EUA, segundo a advogada Érica Gorga, professora da FGV (Fundação Getúlio Vargas).

"Os acionistas minoritários vão pleitear indenização pela enorme desvalorização das ações que ocorreu com a divulgação das fraudes e corrupção", afirmou Gorga. O escritório de advocacia americano Rosen Law anunciou nesta semana que busca investidores para uma ação coletiva contra a JBS nos EUA.

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OS RISCOS PARA A EMPRESA

PLANO SUSPENSO
A família Batista tem um plano de reorganização do grupo que prevê a abertura do seu capital em Nova York e permitiria um novo salto em sua expansão internacional. A crise suspendeu o plano

MULTAS
A empresa negocia com o Ministério Público Federal um acordo de leniência para poder continuar com acesso a crédito público. Os procuradores pediram R$ 11 bilhões de multa, mas a JBS disse não

AÇÕES JUDICIAIS
Como fizeram antes com a Petrobras e a Odebrecht, advogados e investidores começaram a se mexer para processar a JBS nos Estados Unidos, por perdas que teriam sofrido com papeis da empresa

BOICOTE
Uma campanha nas redes sociais pede o boicote às marcas da JBS. A maior parte das receitas da empresa vem do mercado externo, mas o dano à imagem da empresa pode ser grande no Brasil


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