Folha de S. Paulo


Funcionários rejeitam redução de salário, e Alitalia fica perto do colapso

Alberto Pizzoli - 20.mar.17/AFP
(FILES) This file photo taken on March 20, 2017 shows Alitalia air transport employees gathering for a protest rally at Rome's Fiumicino airport. Alitalia's workers are voting today on April 24, 2017 on a referendum to find an agreement on job and pay cuts. Prime Minister Paolo Gentiloni warned last week that without the plan's approval
Funcionárias da Alitalia durante protesto no aeroporto de Fiumicino, em Roma

A Alitalia, a companhia de aviação nacional italiana, foi levada ao caos depois que seus trabalhadores se rebelaram contra um acordo fechado dez dias atrás entre o comando da empresa e os sindicatos para salvar a empresa do colapso, por meio de demissões e corte de salários.

A votação que reprovou o acordo coloca em risco a obtenção de um empréstimo planejado para preservar a solvência da Alitalia, o que significa que a empresa está em risco de falência, liquidação e suspensão de suas operações de voo.

Paolo Gentiloni, o primeiro-ministro italiano, convocou na noite de segunda-feira (24) os ministros ao Palazzo Chigi, a sede do governo em Roma, para reuniões de emergência sobre o destino da companhia, que é uma das marcas mais conhecidas da aviação europeia, desde seu primeiro voo, em 1947.

Nos últimos dias, representantes do governo italiano descartaram em diversas ocasiões um resgate da empresa com dinheiro dos contribuintes, o que não deixa outra opção de sobrevivência que não uma mudança de posição da parte dos trabalhadores.

Acreditava-se que a Alitalia havia encontrado um salvador quando a Etihad, empresa de aviação dos Emirados Árabes Unidos, fez um grande investimento na companhia quase três anos atrás, adquirindo 49% de suas ações. Mas os esforços para retornar rapidamente ao lucro foram prejudicados pela concorrência crescente das empresas de aviação de baixo custo e pelo impacto do terrorismo sobre as viagens na Europa.

A Alitalia tentou reencontrar o caminho alguns meses atrás, com um plano para cortar seus custos em mais de € 1 bilhão nos próximos três anos, com até 2.000 demissões e cortes de salários de até 30%.

Em um acordo fechado com os sindicatos no dia 14, que deveria abrir caminho a uma nova rodada de empréstimos, as demissões foram reduzidas, e os cortes de salário, limitados a 8%. Mas os 11,4 mil funcionários da empresa ainda assim rejeitaram a solução, em votação na noite de segunda-feira, o que pôs fim às esperanças de que o acordo representasse uma saída.

"Foi um voto doloroso mas determinado contra uma empresa que pouco fez até agora para reverter seus problemas", disseram os sindicatos, quando o resultado da votação se tornou claro.

"Vamos esperar pela avaliação e pelas decisões dos acionistas e do governo, sabedores de que qualquer solução precisa ser estudada para evitar decisões traumáticas e impossíveis de alterar", acrescentaram os sindicatos. O conselho da Alitalia anunciou que se reuniria na terça-feira para discutir o "resultado negativo".

A insolência iminente aumenta a pressão sobre Gentiloni, de centro-esquerda, e sobre o ex-primeiro ministro Matteo Renzi, que deve ser eleito para a liderança do Partido Democrático, situacionista, nas primárias que acontecerão sábado.

Os dois estão tentando garantir que o partido mantenha sua chance de derrotar o Movimento Cinco Estrelas, uma organização ascendente que se opõe à elite, na eleição geral italiana marcada para o começo de 2018.

Mas eles estão enfrentando dificuldades para conter a ascensão do Cinco Estrelas, em razão da economia lenta, da fraqueza de alguns bancos e da duradoura crise de imigração.

SUICÍDIO

"Os trabalhadores preferiram suicídio a sacrifício", escreveu Lucia Annunziata, editora do "Huffington Post Italy", em uma coluna publicada na segunda-feira à noite, descrevendo a situação como uma faceta da onda populista que vem afligindo as democracias ocidentais.

"Isso foi um voto de desconfiança no Estado, no Executivo e nos sindicatos —todas as instituições que estão lá para defender os interesses dos trabalhadores e dos cidadãos", ela acrescentou.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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