Folha de S. Paulo


Freio na venda de smartphones preocupa fabricantes de componentes

Quando a árvore da Apple se sacode, os galhos mais baixos estremecem fortemente -ou seja, o imenso número de companhias que fornecem as centenas de componentes usados para montar um smartphone.

E a árvore se sacudiu bastante neste ano. Das duas empresas que dominam o segmento de smartphones, a Apple teve o primeiro declínio anual no volume de vendas do iPhone. A Samsung, enquanto isso, saiu queimada em razão da indignação dos consumidores quanto à combustão espontânea de seu Galaxy Note 7.

Em termos mais amplos, a consultoria Gartner prevê alta de apenas 7% nas vendas de smartphones neste ano, metade do índice de 2015, o que agrava a preocupação de que o vasto setor formado pela produção de smartphones venha em breve a enfrentar estagnação de crescimento.

"Com vendas anuais de 1,5 bilhão de unidades, o setor de smartphones é um mercado monstro", afirma Steven Pelayo, analista de tecnologia no banco HSBC, que aponta para os mercados relativamente menores detidos pelos computadores pessoais e tablets.

Evolução do iPhone

"Eles passaram por um superciclo que roubou vendas de vários outros setores. Mas qual será o próximo grande propulsor de vendas?"

A questão ricocheteia nos conselhos e nas fábricas do Japão, de Taiwan, da Coreia do Sul e da China. A Apple, por exemplo, depende de mais de 200 fornecedores para seus produtos, e a vasta maioria deles está estabelecida na Ásia.

Como presidente-executivo da Japan Display, que gera 85% de seu faturamento com vendas a fabricantes de smartphones, e metade dele com a Apple, Mitsuru Homma está muito bem informado sobre o dilema.

"Se continuarmos com os smartphones, dentro de cinco a dez anos é provável que a JDI deixe de existir", disse ele, se referindo à sua empresa pela sigla. "O senso de crise é muito forte para mim."

CARROS AUTÔNOMOS

Homma vê oportunidades no segmento de carros autônomos, que vai requerer telas interativas.

Os carros também fazem parte dos planos da Sony, bem como a internet das coisas. O grupo japonês apostou seu futuro nos sensores de imagens e agora pode se vangloriar de uma fatia de mercado de 40% nesse setor, em termos de valor. "Os sensores de imagem são dispositivos de inserção de dados, e por isso acreditamos que existam novos mercados a explorar", disse Tsutomu Haruta, diretor-geral da empresa.

Os analistas de tecnologia identificaram que o desenvolvimento do design dos smartphones chegou a um platô, excetuadas melhoras incrementais em sistemas de imagem avançados, o que significa que mais pessoas agora estão dispostas a manter em uso por mais tempo os smartphones que já têm.

Pelo menos até que encontrem uma nova e convincente razão para um upgrade. Os fornecedores das fabricantes de smartphones, antes aparentemente inexpugnáveis, precisarão apertar os cintos enquanto esperam pela próxima onda de inovação nos bens de consumo populares.

"Com o tempo, desconfiamos de que o crescimento da cadeia de suprimentos vá ser impulsionado por uma gama cada vez maior de produtos, mas nenhum segmento isolado conseguirá se aproximar dos smartphones, por um bom tempo", disse Pelayo.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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