Folha de S. Paulo


Carro autônomo poupará tempo, dinheiro e vidas, diz Conselho dos EUA

As autoridades federais que regulamentam os automóveis dos Estados Unidos anunciaram oficialmente nesta segunda-feira (19) sua aposta em que as rodovias do país se tornarão mais seguras se máquinas —e não pessoas— dirigirem veículos.

Em diretrizes há muito aguardadas para o florescente setor de veículos automatizados, o governo Obama prometeu forte fiscalização de segurança, mas enviou às montadoras de automóveis uma mensagem clara de que as portas estão completamente abertas para os carros autônomos.

"Nossa visão para o futuro é a de que você poderá tirar as mãos de volante e o seu percurso de casa para o trabalho se tornará repousante ou produtivo, em lugar de exaustivo e frustrante", disse Jeffrey Zientz, diretor do Conselho Nacional de Economia, acrescentando que veículos altamente automatizados "economizarão tempo, dinheiro e vidas".

As declarações foram o sinal mais forte já enviado pelas autoridades regulatórias federais de que elas veem a tecnologia de carros automatizados como uma vantagem para a segurança automobilística. Mas tendo endossado oficialmente a nova tecnologia, em rápida evolução, as autoridades agora precisam encontrar um equilíbrio entre os interesses comerciais de empresas como Google, Uber e Tesla e as preocupações de segurança pública, especialmente tendo em vista as recentes colisões envolvendo carros semiautônomos.

NORMALIZAÇÃO, TESTES E ACIDENTES

As normas divulgadas nesta segunda foram concebidas para encontrar esse equilíbrio. Zientz e Anthony Foxx, secretário do Transporte do governo norte-americano, apareceram juntos para anunciar as primeiras normas, que delineiam as expectativas de segurança e encorajam regras uniformes para a tecnologia nascente. As instruções sinalizam aos motoristas que os veículos automatizados não serão um oeste selvagem no qual as empresas possam tentar qualquer coisa sem fiscalização, mas também são frouxas o bastante para que as montadoras de automóveis e as empresas de tecnologia não precisem temer regulamentação excessiva.

Carros sem motoristas e semiautônomos estão circulando nas ruas e estradas dos Estados Unidos, forçando as autoridades regulatórias a tentar acompanhar a evolução. A montadora de carros elétricos Tesla vendeu dezenas de milhares de carros equipados com um recurso de autocondução chamado Autopilot. A empresa vem enfrentando as consequências de um acidente que causou a morte de um motorista que tinha o Autopilot de seu carro ligado, em maio na Flórida, bem como informações sobre um novo acidente, uma semana atrás na China, com um carro que tinha o sistema acionado.

A Tesla planeja nesta semana atualizar o software de seus carros. Elon Musk, o presidente-executivo da empresa, disse que a nova ferramenta incluirá melhoras no Autopilot que poderiam ter evitado o acidente fatal em maio.

Kim Kyung-Hoon/Reuters
Chinês responsabiliza função
Chinês responsabiliza função "piloto automático" de carro da Tesla por morte do filho

O Uber, gigante dos serviços online de carros, na semana passada iniciou testes em Pittsburgh sob os quais seus usuários mais leais poderão solicitar carros sem motorista por meio do app da companhia em seus smartphones. O Google vem testando carros autoguiados na cidade que abriga sua sede, Mountain View, na Califórnia, e rivais como a Apple também estão explorando tecnologias semelhantes.

No ano passado, aconteceram quase 40 mil mortes por acidentes relacionados com automóveis nos Estados Unidos, o total mais alto de mortes automotivas desde 2008 e a maior alta percentual em termos de vítimas fatais dos últimos 50 anos, de acordo com o Conselho Nacional de Segurança.

Karl Brauer, editor sênior do Kelley Blue Book, um serviço de pesquisa e avaliação de automóveis, disse que as novas normas buscam o equilíbrio entre garantir a segurança enquanto as montadoras desenvolvem carros autoguiados e garantir que a introdução dessa tecnologia capaz de salvar vidas não seja retardada desnecessariamente.

"Vivemos uma estranha transição", disse Brauer. "É um ponto de equilíbrio difícil de encontrar, para as autoridades regulatórias. Queremos que essa tecnologia chegue às estradas, mas não que avance rápido demais."

As novas normas divulgadas na segunda-feira se dirigem a quatro áreas principais. O Departamento do Transporte anunciou 15 normas de segurança para o projeto e desenvolvimento de veículos autônomos: apelou aos Estados que desenvolvam normas uniformes quanto aos carros autônomos; esclareceu de que maneira as normas existentes devem ser aplicadas aos carros autoguiados; e abriu as portas a novas normas para essa tecnologia.

No momento, os carros autônomos encaram grande variação nas normas estaduais às quais estão submetidos. Nos últimos três anos, cerca de uma dúzia de Estados aprovaram leis que tratam especificamente do teste desse tipo de veículo. A maioria dessas leis requer que haja um motorista habilitado a bordo do carro.

Foxx disse que os Estados continuariam responsáveis por regulamentar a habilitação de motoristas e o seguro obrigatório. Mas ele afirmou que seu departamento tem o controle quando o assunto é regulamentar o software usado em carros autoguiados.

"O que estamos tentando fazer é evitar a confusão de múltiplas leis estaduais", disse Foxx.

Divulgação
Carro autônomo da Ford durante teste em Michigan (EUA)
Carro autônomo da Ford durante teste em Michigan (EUA)

COOPERAÇÃO

As normas federais foram recebidas com agrado pelas montadoras. A Ford, que pretende produzir veículos completamente autônomos a partir de 2021, para lançar um serviço como o do Uber, afirmou em comunicado que a orientação "ajudará a estabelecer a base para uma estrutura nacional que permitirá o emprego seguro de veículos autônomos. Também aguardamos a oportunidade de trabalhar com os Estados em áreas que complementem a estrutura nacional."

"Os governos estaduais e locais também têm responsabilidades complementares e devem trabalhar com o governo federal a fim de conquistar e manter nosso status como líderes mundiais em inovação", disse David Strickland, diretor jurídico da Self-Driving Coalition for Safer Streets, uma organização setorial.

O endosso do governo vai acelerar o processo de lançamento de carros autônomos, dizem especialistas, e ele pode começar nos próximos cinco anos.

"Isso ajuda as empresas ao lhes oferecer alguma cobertura. Se um carro colidir, os tribunais podem usar essas normas para ajudar a determinar o que é e o que não é razoável", disse Bryant Walker Smith, professor da Universidade da Carolina do Sul.

As grandes montadoras, especialmente, obtiveram avanços consideráveis no desenvolvimento tecnológico de carros sem motorista, mas hesitam em introduzir esses novos recursos rapidamente sem o apoio das autoridades regulatórias federais.

"As grandes empresas amam certezas e metas que possam se organizar para atingir", disse Brad Templeton, consultor e editor do site robocars.com.

Tradução de PAULO MIGLIACCI

Carro do Google


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