Folha de S. Paulo


Crédito imobiliário com recurso da poupança cai 49,5% no semestre

Os financiamentos imobiliários concedidos com recursos da poupança no primeiro semestre do ano somaram R$ 22,6 bilhões, volume 49,5% menor do que o registrado no mesmo período do ano passado.

A queda foi pior entre imóveis usados, cujos financiamentos caíram 60% na comparação entre os períodos, totalizando R$ 6,2 bilhões no semestre. Entre os novos, esse valor foi de R$ 11,3 bilhões –redução de 37%.

Já os financiamentos com base em recursos do FGTS, voltados para habitação popular, estão entre os níveis mais altos da história. Entre janeiro e junho, foram R$ 27,6 bilhões, alta de 1,3% em relação ao primeiro semestre de 2015, de acordo com dados da Abecip (Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança).

"Apesar da crise, a boa notícia é que o mercado está mudando o mix de imóveis. Estamos produzindo mais habitação popular e menos com perfil de classe média, de custo mais alto", afirma Gilberto Duarte de Abreu Filho, presidente da Abecip.

Entre janeiro e junho, foram financiados 445 mil imóveis, sendo 344 mil com recursos do FGTS e 101 mil com recursos da poupança –ou 77% contra 23%. Já no segundo semestre de 2014, último período em que a poupança superou o FGTS, essas proporções foram de 42,7% e 57,3%, respectivamente.

A retração no sistema SBPE, que usa recursos da poupança, reflete a escassez de dinheiro na aplicação, cujos saques têm superado os depósitos nos últimos meses.

No semestre, a poupança perdeu R$ 34,7 bilhões. Para Abreu Filho, esse cenário deve continuar enquanto a taxa básica de juros permanecer em 14,25%, uma vez que torna os rendimentos da poupança menos atraentes frente a outras aplicações.

Por isso, o mercado está trabalhando com outras fontes de recursos como LCI (letras de crédito imobiliário), que somaram R$ 189 bilhões no semestre. A Abecip também trabalha para regulamentar uma nova fonte de recursos que possibilitaria a entrada de investidores estrangeiros no mercado, chamada letra imobiliária garantida (LIG).

Em geral, o desempenho no semestre foi pior do que o setor esperava, afirma Abreu Filho. "Não imaginamos que o primeiro semestre seria tão duro como foi", disse.

Apesar dos números ruins, a entidade avalia que o mercado está se recuperando, com a melhora nos índices de confiança e queda do risco-Brasil. Mesmo com a Selic em um patamar considerado alto, o mercado já projeta uma queda nas taxas de juros no longo prazo, que impactam diretamente os financiamentos no setor imobiliário.

"No longo prazo, o dinheiro está ficando mais barato e isso é bom, o que significa que os bancos podem emprestar mais de modo mais barato e torna os imóveis acessíveis para mais pessoas, gerando um novo ciclo de crescimento", diz Abreu Filho.

Em junho, houve aumento de 9,5% dos financiamentos imobiliários concedidos com base em recursos da poupança em relação a maio. No mês, foram R$ 4,3 bilhões destinados a compra e construção de imóveis.

A projeção da Abecip é que 2016 feche com uma retração de 34% nos financiamentos imobiliários com recursos da poupança, que devem totalizar R$ 50 bilhões, mas que a curva de queda se inverta a partir do final de 2016.

Os níveis de inadimplência continuam baixos, na visão do mercado. No semestre, a taxa de pessoas com mais de três parcelas em atraso foi de 1,8%, o que mostra que o consumidor procura regularizar sua situação com urgência para não perder o imóvel, avalia o presidente da Abecip.

CAIXA

As mudanças nas regras de financiamento imobiliário implementadas pela Caixa em junho foram bem vistas pelo setor ao aumentar a oferta de dinheiro no mercado. "A Caixa deve voltar a ser mais atuante", diz Abreu Filho.

NOVAS MANEIRAS - Caixa altera regras para financiamento imobiliário

Em junho, o banco dobrou para R$ 3 milhões o valor limite dos imóveis que financia e aumentou os percentuais financiáveis, que passaram de 70% para 80% no caso de novos e de 60% para 70% no de usados com preços superiores a R$ 750 mil.

LANÇAMENTOS

A melhora nas expectativas já mostra sinais de recuperação no mercado. Entre janeiro e maio, foram lançadas 21.406 unidades habitacionais, alta de 24,7% em relação a igual período anterior, segundo dados da Abrainc (Associação Brasileira das Incorporadoras Imobiliárias) em parceria com a Fipe.

O crescimento, porém, deve ser visto com cautela. "O desempenho do setor imobiliário precisa ser analisado por um período maior. Dessa forma, os números indicam um aumento pontual", diz, em nota, Renato Ventura, vice-presidente da entidade.

Apesar do aumento do número de lançamentos, as vendas continuam em queda. No acumulado até maio, 39.472 unidades foram compradas, retração de 14,7% em comparação ao mesmo período do ano anterior.


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