Folha de S. Paulo


Livro analisa perspectiva de crescimento de nações

Em dezembro de 2013, Ruchir Sharma, um administrador de investimento, estava na estrada para os Estados indianos de Madhya Pradesh e Rajastão, entrevistando moradores sobre as eleições estaduais iminentes no país.

Em todo lugar que visitava, as pessoas "zangadamente mencionavam, até a última rupia", os aumentos nos preços das batatas, do ghee (uma manteiga típica indiana) e das cebolas, nos cinco anos precedentes, escreve Sharma em seu livro "The Rise and Fall of Nations" [A ascensão e a queda das nações]. A discussão sobre a inflação sobrepujava todas as demais questões prementes, como a corrupção e o desemprego".

A inflação é um dos dez critérios usados por Sharma, diretor de mercados emergentes da Morgan Stanley Investment Management, para avaliar as perspectivas de grandes e pequenos países. Ela é um problema, afirma o autor, porque mata o crescimento ao desencorajar a poupança, elevar o custo de capital e contribuir para a instabilidade política.

Em Madhya Pradesh e no Rajastão, os resultados das eleições estaduais que ele estava acompanhando prenunciaram a derrota que o Partido do Congresso sofreria no pleito nacional seis meses mais tarde.

Como sugerem as percepções de Sharma sobre o preço da cebola na Índia, seu trabalho nada tem de teórico ou abstrato. Seu novo livro adota a abordagem que serviu muito bem ao autor em "Os Rumos da Prosperidade", um levantamento sobre os mercados emergentes publicado em 2012, no qual ele considerava as opiniões de barbeiros bem como as de presidentes para determinar se os fundamentos de um país justificavam previsões mais otimistas ou mais pessimistas sobre seu desempenho.

Sharma aponta que, quando a crise financeira mundial explodiu, em 2007, mais de 60 países estavam crescendo ao menos 7% anuais, mas hoje apenas nove podem fazer afirmação semelhante.

O autor demonstra especial pessimismo quanto às perspectivas da China, cujo desempenho é muito ruim no quesito dívida. Para ele, esse é o fator mais crítico na determinação do desempenho econômico no curto a médio prazo: se a dívida cresce mais que o Produto Interno Bruto (PIB) durante um período sustentado, o país deve esperar uma desaceleração na economia.

BILIONÁRIOS

Talvez o mais convincente entre os capítulos do livro seja aquele no qual ele compara "bons bilionários" a "maus bilionários".

Os bons bilionários são aqueles que criam empregos e produtos, e com isso sustentam o crescimento econômico –os exemplos incluem os fundadores de Alibaba, Baidu e Tencent, na China, e os magnatas do Vale do Silício nos Estados Unidos.

China/AFP
Robin Li, executivo-chefe do Baidu, e Bill Gates, da Microsoft, em evento em Pequim, na China
Robin Li, executivo-chefe do Baidu, e Bill Gates, da Microsoft, em evento em Pequim, na China

Em contraste, os maus bilionários são aqueles que fizeram suas fortunas com base em conexões políticas e corrupção, obtendo licenças para explorar recursos naturais ou o mercado de imóveis.

A Rússia é o exemplo mais claro do modelo dos maus bilionários –entre os 104 bilionários do país, 70% da riqueza provém de atividades conectadas à política, como a exploração de petróleo e gás natural.

A Rússia, portanto, é um alvo primordial para uma reação política à crescente desigualdade. "É a ascensão de uma classe de maus bilionários fortemente enraizados em setores improdutivos e tradicionalmente propensos à corrupção que apresenta maior probabilidade de sufocar o crescimento", escreve Sharma.

Menos previsivelmente, o Japão também recebe críticas, precisamente por causa de sua falta de bilionários.

A proporção do PIB do país detida por essa categoria é de apenas 2%. "Torna-se necessário suspeitar que esse seja um sintoma da incapacidade crônica daquela economia para criar riqueza significativa", aponta Sharma, sugerindo que a falha é um marco de "uma cultura política e empresarial que recompensa mais a senioridade que o mérito ou a capacidade de aceitar riscos".

O crescimento pode se desacelerar quando a desigualdade é pequena demais e também quando ela é grande demais.

A Índia tampouco se sai muito bem, primordialmente devido à sua baixa classificação no quarto indicador acompanhado por Sharma, que mede o peso da influência do governo sobre a economia. O pessimismo está no fato de que o governo controla 70% do sistema bancário.

A França, para surpresa de ninguém, prova ser "o rotundo rei dessa categoria".

POTENCIAL

Existem países cujas perspectivas são menos sombrias. Sharma demonstra relativo otimismo sobre os Estados Unidos, por causa de suas conexões comerciais profundas, indústria e tecnologia fortes e bilionários como Bill Gates.

Do lado negativo, os Estados Unidos também têm uma moeda cara, um alto nível de dívida e a ameaça do populismo furioso.

Ele também é positivo sobre a Alemanha e alguns dos países em sua órbita econômica, como a República Tcheca e a Romênia.

Todas essas opiniões não são de maneira alguma inalteráveis: Sharma acredita que previsões quanto ao longo prazo são esporte para os insensatos. Mas, no que tange a percepções sobre as forças que estão em operações em nosso mundo hoje, "The Rise and Fall of Nations" é um guia estimulante e útil.

Tradução de PAULO MIGLIACCI

The Rise and Fall of Nations
AUTOR Ruchir Sharma
EDITORA Allen Lane
QUANTO R$ 72,65 na amazon.com.br (480 págs.)


Endereço da página: