Folha de S. Paulo


Problemas internos do bitcoin dão oportunidade a nova moeda virtual

Jim Urquhart - 31.jan.14/Reuters
Some of Bitcoin enthusiast Mike Caldwell's coins are pictured at his office in this file photo illustration in Sandy, Utah January 31, 2014. Mt. Gox, once the world's largest bitcoin exchange, filed for U.S. Bankruptcy in Dallas late Sunday, a move that will temporarily put U.S. legal action on hold against the Japanese company. REUTERS/Jim Urquhart/Files REUTERS/Jim Urquhart (UNITED STATES - Tags: BUSINESS) ORG XMIT: TOR909
Moedas bitcoin em foto de ilustração em Sandy, Utah (EUA)

Há uma nova corrida do ouro virtual em curso.

No momento em que o bitcoin enfrenta dificuldades, por conta de divisões internas, uma moeda virtual concorrente —conhecida como Ethereum— passou por uma disparada de valor, com alta de 1.000% nos três últimos meses.

Para além do pico de preços, o Ethereum também está atraindo a atenção dos gigantes das finanças e tecnologia, como o JPMorgan Chase, Microsoft e IBM, que vêm descrevendo a nova moeda como uma espécie de bitcoin 2.0.

A ascensão de uma moeda virtual relativamente nova foi ajudada por uma batalha no seio da comunidade do bitcoin, sobre como o software básico da moeda deveria ser desenvolvido.

As disputas tornaram mais lentas as transações com bitcoins e levaram algumas pessoas a buscar moedas virtuais alternativas a fim de levar adiante os seus negócios.

Como o bitcoin, o sistema do Ethereum se baseia em um registro permanente, conhecido como blockchain, no qual todas as transações são publicamente anotadas. A promessa de um sistema como esse é a de que permitirá a troca de dinheiro e ativos com mais rapidez e a custo mais baixo do que seria possível se a transação envolvesse uma longa cadeia de intermediários.

Mas o Ethereum também conquistou fãs com sua promessa de fazer muito mais que o bitcoin. Além da moeda virtual, o software oferece uma maneira de criar mercados online e transações programadas conhecidas como contratos inteligentes.

O sistema é complicado o bastante para que mesmo as pessoas que o conhecem bem encontrem dificuldade para descrevê-lo em termos cotidianos. Mas um aplicativo que está em desenvolvimento permitiria que agricultores vendessem seu produto diretamente aos consumidores e recebessem pagamento destes diretamente. Há dezenas de aplicativos funcionais para o Ethereum, habilitando novas maneiras de administrar e pagar por eletricidade, apostas esportivas e até esquemas de pirâmide.

Todo esse trabalho está em estágio inicial. A primeira versão plenamente pública do software Ethereum foi lançada recentemente, e o sistema pode enfrentar alguns dos mesmos problemas técnicos e legais que macularam o bitcoin.

Muitos dos proponentes do bitcoin dizem que o Ethereum enfrentará mais problemas de segurança do que o rival, por conta da maior complexidade do software. Até agora, o Ethereum passou por muito menos testes e ainda menos ataques do que o bitcoin. O design inovador do Ethereum também pode atrair intenso escrutínio das autoridades, dada a possibilidade de contratos fraudulentos, como os esquemas de pirâmide, que podem ser inscritos diretamente no sistema Ethereum.

Mas as capacidades sofisticadas do sistema também o tornaram fascinante para alguns executivos de grandes empresas norte-americanas. A IBM anunciou no ano passado que estava experimentando o Ethereum como forma de controlar objetos no mundo real, na chamada Internet das coisas.

A Microsoft vem trabalhando em diversos projetos que tornam mais fácil usar o Ethereum em seu sistema de computação em nuvem, o Azure.

"O Ethereum é uma plataforma geral com a qual você pode resolver problemas de muitos setores por meio de uma solução muito elegante —a mais elegante que vimos até hoje", disse Marley Gray, diretor de desenvolvimento de negócios e de estratégia na Microsoft.

Gray é responsável pelo trabalho da Microsoft com blockchains, o conceito de banco de dados introduzido pelo bitcoin. Os blockchains são projetados de forma a armazenar transações e dados sem requerer uma autoridade ou repositório central.

Os registros do blockchain são em geral mantidos e atualizados por redes de computadores trabalhando juntos —mais ou menos da mesma maneira que a Wikipedia é atualizada e mantida por todos os usuários.

Muitas grandes empresas, porém, criaram redes Ethereum próprias com blockchains privados, independentes do sistema público, e isso poderia desvalorizar a unidade individual do sistema Ethereum —o ether—, que as pessoas começaram a comprar recentemente.

O interesse pelo Ethereum é um sinal do fascínio das grandes empresas pelo conceito de blockchain. A maioria dos grandes bancos já expressou interesse pelo seu uso para permitir transações e transferências mais rápidas e eficientes. Na terça-feira, executivos dos maiores bancos norte-americanos se reunirão em uma conferência sobre os blockchains, que promete ensiná-los a aproveitar o verdadeiro potencial do conceito e a descartar os exageros.

Muitos desses bancos vêm recentemente estudando como colocar em uso alguma versão do Ethereum. O JPMorgan, por exemplo, criou uma ferramenta específica, chamada Masala, que permite que alguns de seus bancos de dados internos interajam com o blockchain do Ethereum.

Michael Novogratz, antigo executivo de primeiro escalão no grupo de capital privado Fortress Investing Group, que ajudou a organizar o investimento do Fortress no bitcoin, vem estudando o Ethereum desde que deixou sua antiga empresa, no final do ano passado. Novogratz realizou uma compra "significativa" de ethers em janeiro. Também vem acompanhando a evolução do debate do setor de tecnologia sobre a moeda virtual.

"Havia grande número de participantes estabelecidos pensando que aquilo era só uma experiência", ele disse. "Parece que nos últimos dois ou três meses a experiência obteve pelo menos alguma validação".

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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