Há uma nova corrida do ouro virtual em curso.
No momento em que o bitcoin enfrenta dificuldades, por conta de divisões internas, uma moeda virtual concorrente —conhecida como Ethereum— passou por uma disparada de valor, com alta de 1.000% nos três últimos meses.
Para além do pico de preços, o Ethereum também está atraindo a atenção dos gigantes das finanças e tecnologia, como o JPMorgan Chase, Microsoft e IBM, que vêm descrevendo a nova moeda como uma espécie de bitcoin 2.0.
A ascensão de uma moeda virtual relativamente nova foi ajudada por uma batalha no seio da comunidade do bitcoin, sobre como o software básico da moeda deveria ser desenvolvido.
As disputas tornaram mais lentas as transações com bitcoins e levaram algumas pessoas a buscar moedas virtuais alternativas a fim de levar adiante os seus negócios.
Como o bitcoin, o sistema do Ethereum se baseia em um registro permanente, conhecido como blockchain, no qual todas as transações são publicamente anotadas. A promessa de um sistema como esse é a de que permitirá a troca de dinheiro e ativos com mais rapidez e a custo mais baixo do que seria possível se a transação envolvesse uma longa cadeia de intermediários.
Mas o Ethereum também conquistou fãs com sua promessa de fazer muito mais que o bitcoin. Além da moeda virtual, o software oferece uma maneira de criar mercados online e transações programadas conhecidas como contratos inteligentes.
O sistema é complicado o bastante para que mesmo as pessoas que o conhecem bem encontrem dificuldade para descrevê-lo em termos cotidianos. Mas um aplicativo que está em desenvolvimento permitiria que agricultores vendessem seu produto diretamente aos consumidores e recebessem pagamento destes diretamente. Há dezenas de aplicativos funcionais para o Ethereum, habilitando novas maneiras de administrar e pagar por eletricidade, apostas esportivas e até esquemas de pirâmide.
Todo esse trabalho está em estágio inicial. A primeira versão plenamente pública do software Ethereum foi lançada recentemente, e o sistema pode enfrentar alguns dos mesmos problemas técnicos e legais que macularam o bitcoin.
Muitos dos proponentes do bitcoin dizem que o Ethereum enfrentará mais problemas de segurança do que o rival, por conta da maior complexidade do software. Até agora, o Ethereum passou por muito menos testes e ainda menos ataques do que o bitcoin. O design inovador do Ethereum também pode atrair intenso escrutínio das autoridades, dada a possibilidade de contratos fraudulentos, como os esquemas de pirâmide, que podem ser inscritos diretamente no sistema Ethereum.
Mas as capacidades sofisticadas do sistema também o tornaram fascinante para alguns executivos de grandes empresas norte-americanas. A IBM anunciou no ano passado que estava experimentando o Ethereum como forma de controlar objetos no mundo real, na chamada Internet das coisas.
A Microsoft vem trabalhando em diversos projetos que tornam mais fácil usar o Ethereum em seu sistema de computação em nuvem, o Azure.
"O Ethereum é uma plataforma geral com a qual você pode resolver problemas de muitos setores por meio de uma solução muito elegante —a mais elegante que vimos até hoje", disse Marley Gray, diretor de desenvolvimento de negócios e de estratégia na Microsoft.
Gray é responsável pelo trabalho da Microsoft com blockchains, o conceito de banco de dados introduzido pelo bitcoin. Os blockchains são projetados de forma a armazenar transações e dados sem requerer uma autoridade ou repositório central.
Os registros do blockchain são em geral mantidos e atualizados por redes de computadores trabalhando juntos —mais ou menos da mesma maneira que a Wikipedia é atualizada e mantida por todos os usuários.
Muitas grandes empresas, porém, criaram redes Ethereum próprias com blockchains privados, independentes do sistema público, e isso poderia desvalorizar a unidade individual do sistema Ethereum —o ether—, que as pessoas começaram a comprar recentemente.
O interesse pelo Ethereum é um sinal do fascínio das grandes empresas pelo conceito de blockchain. A maioria dos grandes bancos já expressou interesse pelo seu uso para permitir transações e transferências mais rápidas e eficientes. Na terça-feira, executivos dos maiores bancos norte-americanos se reunirão em uma conferência sobre os blockchains, que promete ensiná-los a aproveitar o verdadeiro potencial do conceito e a descartar os exageros.
Muitos desses bancos vêm recentemente estudando como colocar em uso alguma versão do Ethereum. O JPMorgan, por exemplo, criou uma ferramenta específica, chamada Masala, que permite que alguns de seus bancos de dados internos interajam com o blockchain do Ethereum.
Michael Novogratz, antigo executivo de primeiro escalão no grupo de capital privado Fortress Investing Group, que ajudou a organizar o investimento do Fortress no bitcoin, vem estudando o Ethereum desde que deixou sua antiga empresa, no final do ano passado. Novogratz realizou uma compra "significativa" de ethers em janeiro. Também vem acompanhando a evolução do debate do setor de tecnologia sobre a moeda virtual.
"Havia grande número de participantes estabelecidos pensando que aquilo era só uma experiência", ele disse. "Parece que nos últimos dois ou três meses a experiência obteve pelo menos alguma validação".
Tradução de PAULO MIGLIACCI