Folha de S. Paulo


Economia dos EUA cresce 0,5% no 1º trimestre, ritmo mais lento em 2 anos

Gary Cameron/Reuters
Presidente dos EUA, Barack Obama, em entrevista em abril de 2016: PIB americano desacelerou
Presidente dos EUA, Barack Obama, em entrevista em abril de 2016: PIB americano desacelerou

A economia americana teve seu primeiro trimestre mais fraco em dois anos. O PIB cresceu a uma taxa anualizada de 0,5%, abaixo dos 0,7% projetados pelo mercado e um terço aquém da expansão nos três meses finais de 2015 (1,4%).

Os números revelam pé no freio, num quadro mais corriqueiro em tempos de crise: americanos compraram menos, e investidores cortaram gastos.

Divulgada nesta quinta-feira (28) pelo Departamento de Comércio dos Estados Unidos, a performance mostra cautela de corporações e consumidores, ainda que a economia tenha sinalizado que os dias de crise ficaram para trás.

Em março, por exemplo, o país criou 215 mil postos de trabalho, e analistas dizem que há pouca chance de o país cair em nova recessão.

Preços mais em conta de gasolina, em tese, seriam outro incentivo para menos timidez na hora de desembolsar.

PIB dos EUA - Variação trimestral

"Fundamentalmente, a economia está saudável, e a baixa taxa de desemprego oferece um quadro bem mais resiliente em relação a outros anos. Contudo, resíduos de incerteza econômica e ausência de pressões salariais deixam consumidores apreensivos", diz Carl Riccadonna, economista-chefe da Bloomberg Intelligence (braço de pesquisa da agência).

"Isso deve mudar ao longo do ano, caso a criação de empregos permaneça robusta", afirma.

Um começo fraco, no entanto, não é novidade. Nos últimos anos, a largada anual registrou expansões menores que 1%, mas os trimestres seguintes tiveram média acima de 2,5%.

Vale lembrar que o dado divulgado nesta quinta ainda terá revisões, e é comum que esses números variem bastante. "Seria sábio não reagir com exagero aos números de quinta-feira", diz coluna do "Wall Street Journal".

Ainda assim, o desempenho deixa a desejar. "Salvo um milagre, parece que o crescimento do PIB caminha para outro ganho inexpressivo de cerca de 2% em 2016", afirmou Paul Ashworth, economista-chefe da consultoria Capital Economics, ao jornal americano. No ano passado, o país cresceu em torno de 2,4%.

O economista José Márcio Camargo, da Opus Investimentos, aponta duas consequências para o Brasil, uma boa, outra ruim.

"Por um lado, o Fed [banco central americano] pode manter taxas de juro baixas por mais tempo, o que é positivo, se conseguirmos resolver nossa confusão política", diz.

Nesse cenário, juros baixos empurram investidores a se aventurar em outros países. Se as taxas subirem de novo, o que é esperado na medida em que a economia desatrofia, eles voltam a direcionar seus recursos aos EUA.

Mas um PIB fraco não é motivo de festa para o Brasil, segundo Camargo. "Se a economia americana desacelera, isso reduz o crescimento mundial e aumenta o risco de deflação e de estagnação a longo prazo."

CARTEIRA FECHADA

O comportamento corporativo influenciou na baixa taxa anualizada do PIB, com retração de 5,9% em investimentos fixos —gastos com estrutura e equipamento caíram 10,7% e 8,6%, respectivamente.

O consumo das famílias, que responde por 70% da performance econômica, ampliou num passo de 1,9% no trimestre inaugural de 2016.

O desembolso em bens materiais só avançou 0,1%, pior rendimento em cinco anos. Bens duráveis, como novos carros e TVs, caíram 1,6%. Melhores foram os gasto com serviços, que aumentaram 2,7%.

Os americanos estão, isso sim, mais cautelosos: o hábito de poupar cresceu 5,2%.

Um alento: o investimento com moradia avançou 14,8%, maior pulo em quase quatro anos. E quem compra casa nova tende a eventualmente comprar geladeira, fogão e outros bens duráveis, apontam economistas.


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