Folha de S. Paulo


Restaurante segura preço e esfria inflação de serviços

Maria do Carmo/Folhapress
Sao Paulo, SP, Brasil. 16.05.2012. Guia Testa. Temaki de salmao. Temakeria e Cia. (Foto: Maria do Carmo/ Folhapress, Revista)
Com aumento do preço do salmão, restaurante tenta evitar repasse para manter clientes

Desde que um "surto" de algas marinhas matou 25 milhões de peixes no Chile em fevereiro e fez disparar o preço do salmão, a rede de comida japonesa Koni tem se desdobrado para não mexer mais no bolso dos clientes.

Segundo Michel Jager, sócio-diretor da rede, o evento das algas e a alta do dólar fizeram o preço do salmão subir 50% desde o ano passado. É o principal insumo da rede, que compra 35 toneladas do produto a cada mês.

"Vamos ter margens mais apertadas, mas o repasse precisa ser pequeno. Já tivemos redução no movimento e os clientes estão sensíveis ao preço", disse o sócio da Koni, que tem 115 lojas.

Com o consumo das famílias em queda, os empresários começam a frear o reajuste de preços de serviços –um dos grandes vilões da inflação na última década.

Segundo dados do IBGE, a inflação dos serviços desacelerou para 7,49% em março, considerando o indicador acumulado em 12 meses. Trata-se do menor patamar do índice desde novembro de 2010 (7,36%).

"Serviços e renda caminham de mãos dadas. Como a renda está em queda desde o segundo semestre, em algum momento os preços teriam que ceder", disse Márcio Milan, economista da consultoria Tendências.

Os exemplos se multiplicam. O Tartar&Co, do chef Erick Jacquin, evita subir preços e chegou a fazer oferta pelo site Groupon para atrair clientes nos dias da semana mais afetados pela crise.

"Estamos segurando preços há meses e tentando manter o fôlego esperando a reação da economia", disse Georges Foz, sócio no Tartar&Co.

Pela estatística do IBGE, o preço médio da alimentação fora de casa (restaurantes e lanchonetes) até subiu em março (0,55%), mas abaixo do avanço dos preços dos alimentos no mês (1,24%), indicando repasses menores.

INFLAÇÃO COMEÇA A PERDER FORÇA - Crise reduz preços em comércio e serviços

Outros ramos dos serviços tiveram deflação (queda de preços) em março, como passagens aéreas (-10,85%), excursões (-2,49%), telefonia celular (-2,71%) e aluguel de veículos.

A rede hoteleira Windsor, com presença em São Paulo, no Rio e em Brasília, cortou em 15% a tarifa dos quartos no mês passado. Nas unidades do centro do Rio, o desconto chega a 30% para hospedagens de três noites.

"A ocupação caiu de 90% para 70% de um ano para cá com a crise. São hotéis de negócios e que dependem em parte do movimento do setor de petróleo", disse Paulo Marcos Ribeiro, diretor de marketing da rede.

Hotéis tiveram deflação de 1,28% em fevereiro e alta de apenas 0,10% em março. Os motéis, por sua vez, tiveram queda de preço nos dois meses: de 0,38% em fevereiro e de 0,29% em março.

DESEMPREGO

Segundo Cristiano Oliveira, economista-chefe do banco Fibra, os preços de serviços devem continuar desacelerando nos próximos meses, refletindo a piora do emprego e da renda no país.

O Brasil tinha 9,6 milhões de desempregados entre novembro e janeiro passado, 42% a mais que um ano antes. A renda média real dos trabalhadores era 2,4% menor, nessa base de comparação.

Para Oliveira, esse quadro vai piorar e levar o IPCA a 6,5% no fim do ano, no limite do teto da meta. Pelo boletim Focus, do Banco Central, os economistas preveem uma inflação maior, de 7,28%.

"O mercado de trabalho vai continuar piorando e isso vai gerar uma queda dos preços maior do que se imagina. Nosso cenário está se materializando", disse Oliveira, um dos que mais têm acertado projeções do IPCA.


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