Folha de S. Paulo


Queda do juro alimenta debate de 'trégua cambial' global

Aly Song/Reuters
Secretário do Tesouro americano, Jack Lew (centro), e presidente do BC dos EUA, Janet Yellen
Secretário do Tesouro americano, Jack Lew (centro), e presidente do BC dos EUA, Janet Yellen

Marc Chandler, analista de câmbio do banco de investimento Brown Brothers Harriman, não poderia exibir maior desdém diante da ideia de uma declaração de trégua nas guerras cambiais, pelos principais BCs do planeta.

"Primeiro uma guerra é imaginada, e em seguida uma trégua imaginária é declarada. Mesmo?", afirmou.

Reais ou imaginárias, as guerras de câmbio e as desvalorizações competitivas vêm sendo assunto fixo do mercado de câmbio há décadas, e recentemente se viram alimentadas pelos programas de relaxamento monetário dos bancos centrais de Estados Unidos, Japão e Europa.

Taxas de juros baixas e negativas são vistas como fatores de desvalorização de moedas, e com isso como maneira de ajudar a promover inflação mais alta e crescimento mais firme. O problema com essa abordagem é que, no caso do Japão e da Europa, as moedas na verdade vêm ganhando força.

Agora, os rumores giram em torno da reunião do G20, em fevereiro em Xangai, durante a qual líderes teriam falado sobre a necessidade de não promover competição cambial, e sobre se isso teria resultado em um acordo para estabilizar movimentos de câmbio, com o objetivo de acalmar o mercado.

Para os céticos como Chandler, as pessoas que defendem essa ideia observaram uma sequência de decisões surpreendentes da parte de BCs e construíram a única teoria plausível que poderia explicá-las como um todo: as instituições estão operando de forma coordenada.

"Há um 'e daí?', nisso tudo", diz Simon Derrick, do banco BNY Mellon. "Nos últimos 12 ou 13 anos, as intervenções não provaram ter realizado grande coisa."

Mas, como Derrick admite, no mundo do câmbio "é cada um por si". As ações de um país podem ter consequências cambiais para outro. Isso já seria verdade em momentos normais. Em um clima de baixo crescimento e inflação em queda, a tendência se reforça.

EMERGENTES

Para Paul Lambert, da Insight Investment, embora a fraqueza do dólar crie oportunidades para investir em câmbio nos mercados emergentes não haverá grande convicção quanto a fazê-lo.

"Se os dados continuarem a melhorar, o BC dos EUA não terá como manter para sempre essa atitude branda", diz. "Pode haver uma melhora digna de atenção nas moedas de risco, mas não haverá recuperação sustentada. O dólar passará por um período de fraqueza, mas não cairá".


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